Por P. C. Oliveira
Para entrar nesta questão, vejamos primeiramente o que ensina a Igreja a respeito do culto às santas imagens:
"Nós definimos com todo o rigor e cuidado que, à semelhança da representação da cruz preciosa e vivificante, assim as venerandas e sagradas imagens pintadas quer em mosaico quer em qualquer outro material adaptado, devem ser expostas nas santas igrejas de Deus, nas alfaias sagradas, nos paramentos sagrados, nas paredes e mesas, nas casas e ruas; sejam elas a imagem do Senhor Deus e Salvador nosso, Jesus Cristo, ou a da Imaculada Senhora nossa, a Santa Mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos justos. Quanto mais os fiéis contemplarem essas representações, mais serão levados a se recordar dos modelos originais, a se voltar para eles, a lhes testemunhar... uma veneração respeitosa, sem que isso seja adoração, pois esta só convém, segundo a nossa fé, a Deus".” (1)
Vemos então que o culto às imagens é amplamente permitido e incentivado pela Igreja, pois elas estimulam a nossa oração(2),” são objetos de instrução religiosa, lembram-nos das pessoas dos santos e das virtudes que estes praticaram, incitam-nos a imitar-lhes o exemplo, a virtude e a santidade”(3),”contribuem para dar aos lugares de culto um aspecto sagrado, e convidam ao recolhimento e à oração(8)”, entre diversos outros benefícios.
“... a exposição de um ícone figurativo permite àqueles que o contemplam ter acesso aos mistérios da Salvação mediante a vista.” (1)
“O II Concílio de Nicéia não se limita a afirmar a legitimidade das imagens, mas procura ilustrar a sua utilidade para a piedade cristã: ´´Com efeito, quanto mais frequentemente estas imagens forem contempladas, tanto mais os que as virem serão levados à recordação e ao desejo dos modelos originários e a tributar-lhes, beijando-as, respeito e veneração´´(4)
“As imagens, os ícones e as estátuas de Nossa Senhora, presentes nas casas, nos lugares públicos e em inúmeras igrejas e capelas, ajudam os fiéis a invocar a sua presença constante e o seu misericordioso patrocínio nas diferentes circunstâncias da vida.”(4)
“Deve ser encorajado, portanto, o uso de expor as imagens de Maria nos lugares de culto e noutros edifícios, para sentir a sua ajuda nas dificuldades e o apelo a uma vida cada vez mais santa e fiel a Deus.”(4)
Mas o que vem a ser culto?
“É o complexo de atos com que exprimimos, em particular ou em público, com a alma só ou com toda a nossa pessoa, as nossas relações com Deus. O culto a Deus se chama culto de latria ou de adoração. O culto aos Anjos e Santos se diz culto de dulia ou de veneração aos servos de Deus(do grego dúlos: servos). Devido ao excepcional privilégio de Mãe de Deus, a Virgem Santíssima recebe o culto de hiperdulía, ou seja, de especialíssima veneração devida à mais santa das criaturas de Deus.”(6)
Mas não seria errado ajoelhar-se diante de imagens da Mãe de Deus, dos Anjos e Santos, visto que eles não representam Deus para nós? No Catecismo da Igreja Católica encontramos o seguinte ensinamento:
“O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos.De fato, ‘a honra prestada a uma imagem se dirige ao modelo original’, e ‘quem venera a imagem venera a pessoa que nela está pintada’.A honra prestada às santas imagens é uma ‘veneração respeitosa’, e não uma adoração, que só compete a Deus: O culto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as considera em seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado.Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é a imagem.”(5)
“O Concílio Niceno II, portanto, reafirmou solenemente a distinção tradicional entre ´a verdadeira adoração (latria)´ que, ´segundo a nossa fé, é devida somente à natureza divina´ e ´a prosternação de honra´ (timetiké proskynesis), que é prestada aos icones, porque ´aquele que se prostra diante do icone, prostra´se diante da pessoa (a hipóstase) daquele que na figuração é representado´.”(1)
O ato de se ajoelhar, embora seja “por excelência o gesto litúrgico de adoração a Deus”(6), emprega-se também “como sinal de veneração”(7) diante de pessoas ou coisas sagradas”(6). Todos os santos da Igreja rezavam ajoelhados diante das imagens; papas rezam ajoelhados diante dos túmulos de santos(9) e diante da imagem da Mãe de Deus(10).Também bispos e padres de todo o mundo em sinal de veneração se ajoelham aos pés do Papa ao se aproximarem dele para lhe pedir a bênção. Entendemos então que para a Igreja não existe nenhuma proibição quanto ao referido ato, e que ele, como já vimos anteriormente, contribui de diversos modos para o crescimento na vida cristã.
(1) Carta Apostólica Duodecim Saeculum sobre a veneração de Imagens.
(2) Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 1162.
(3) Livro “Na Luz Perpétua’’, vol.1, pg 366.
(4) Audiência geral do Papa João Paulo II de 29 de outubro de 1998.
(5) C.I.C., parágrafo 2132.
(6) Missal cotidiano – Dicionário Litúrgico - D. Gaspar Lefebvre
(7) Veneração: Culto prestado aos servos de Deus
(8) Artigo sobre as sagradas imagens do site www.seminario-campos.org.br – na Bíblia, cf. Ex. 25,22; 1 Reis 6,23 a 28.
(9) Cf. como exemplo a foto da contra-capa do livro O Segredo do Rosário – São Luiz Maria Grignion de Montfort
(10) Cf. foto do livro Aos Sacerdotes, filhos prediletos de Nossa Senhora, do Movimento Sacerdotal Mariano, pg. 1137