segunda-feira, 26 de abril de 2010

Como Cristo apareceu a Frei João do Alverne

    
 Por Renato César

    Haja vista o testemunho dos grandes santos filhos da Mãe Igreja a nos inspirar, pelo belo modelo que souberam dar, trago aqui aos caros leitores, um caso ímpar, da qual não tenho dúvida há de influenciar e edificar as nossas almas no caminho árduo do seguimento de Nosso Senhor, principalmente em se tratando de momentos em nossa caminhada, dos quais é exigido de nós por parte de Deus, muita perseverança, confiança, amor e devoção para alcançarmos os ditames do amor divino. Vejamos o que segue.
I FIORETTI DI SAN FRANCESCO
CAPÍTULO 49*

     Entre outros sábios e santos frades e filhos de São Francisco, os quais, segundo nosso tempo na dita província da Marca o venerável santo Frei João de Ferno, o qual pelo longo tempo em que viveu no santo convento do Alverne e dali passou desta vida, por isso chamado Frei João do Alverne; porque foi homem de singular vida e de grande santidade. Este Frei João, sendo menino de escola, desejara com todo o coração a vai da penitencia a qual mantem a mundícia do corpo e da alma; pelo que, sendo menino bem pequeno, começou a trazer o cilício de malha e o círculo de ferro na carne nua e a fazer grande abstinência, e especialmente quando vivei com os cônegos de S. Pedro de Ferno, os quais passavam esplendidamente. Ele fugia das delícias corporais e macerava o corpo com grande rigidez de abstinência. Mas, havendo entre os companheiros muitos que eram contra isto, os quais lhe tiravam o cilício, e a sua abstinência por diversos modos impediam, ele, inspirado por Deus, pensou de deixar o mundo com os seus amadores, e de oferecer-se a todo nos braços do Crucificado com o hábito do crucificado S. Francisco, e assim o fez. Sendo, pois, recebido na ordem tão criança e entregue aos cuidados do mestre de noviços, tornou-se tão espiritual e devoto, que às vezes ouvindo o dito mestre falar de Deus, o coração dele se derretia com a como a cera perto do fogo; e com tão grande suavidade de graça se aquecia no amor divino que ele, não podendo estar firme e suportar tanta suavidade, se levantava e como ébrio de espírito punha-se a correr ora pelo horto, ora pela floresta, ora pela igreja, conforme a flama e o ímpeto do espírito o impeliam. 
     
     Com o correr do tempo a divina graça continuamente fez este homem angélico crescer de virtude em virtude e em dons celestiais e divinas elevações e arroubamentos; tanto que de algumas vezes sua mente era erguida a esplendores de querubins, de outras vezes a ardores de serafins, de outras vezes a gáudio dos bem-aventurados, de outras vezes a amorosos e excessivos abraços de Cristo, não somente por gostos espirituais internos, mas também expressivos sinais exteriores e gostos corporais. E singularmente uma vez por modo excessivo inflamou o seu coração a chama do amor divino, e nele durou esta chama bem três anos; no qual tempo ele recebia maravilhosas consolações e visitas divinas e freqüentes vezes era arrebatado em Deus; e, brevemente, no dito tempo ele parecia todo inflamado e inclinado no amor de Cristo: E isto aconteceu no monte santo do Alverne. Mas porque Deus tem singular cuidado com seus filhos, dando-lhes, confirma a diferença dos tempos, ora consolação, ora tribulação, ora prosperidade, ora adversidade. Como vê as precisam para se manterem na humildade, ou para lhes acender o desejo das coisas celestiais; aprove à divina bondade depois de três anos retirar do tido Frei João este raio e esta flama do divino amor, e privou-o de toda consolação espiritual: pelo que Frei João ficou sem lume e sem amor de Deus, e todo desconsolado e aflito e dolorido. Pela qual coisa ele tão agoniado andava pela floresta vagando por aqui e por ali, chorando com vozes e lágrimas e suspiros o dileto esposo de sua alma, o qual se havia escondido e dele se partira sem cuja presença sua alma não achava trégua nem repouso. Mas em nenhum lugar, nem de maneira nenhuma ele podia encontrar o doce Jesus, nem readquirir aqueles suavíssimos gostos espirituais do amor de Cristo a que estava acostumados. E durou-lhe esta tribulação por muitos dias, durante os quais perseverou em contínuo chorar e suspirar, pedindo a Deus que lhe restituísse por sua piedade o dileto esposo de sua alma. Por fim, quando aprouve a Deus ter provado bastante a paciência dele e inflamado o seu desejo, um dia em que o dito Frei João andava pela dita floresta assim o aflito e atribulado pelo cansaço, se assentou, encostado-se a uma faia, e estava com a face toda banhada de lágrimas a olhar para o céu; e eis que subitamente apareceu subitamente Jesus Cristo perto dele no atalho pelo qual Frei João tinha vindo, mas nada disse. Vendo-o Frei João e reconhecendo bem que ele era Cristo, subitamente se lhe lançou aos pés e com desmesurado pranto rogava-lhe humilissimamente e dizia: “Socorre-me, Senhor meu, quem sem ti, Salvador meu dulcíssimo, fico em trevas e em lágrimas; sem ti, cordeiro mansíssimo, estou em agonia e em pena e com pavor; sem ti, filho de Deus altíssimo, estou confuso e envergonhado; sem ti estou despojado de todos os bens e cego, porque tu és Jesus Cristo, verdadeira luz da alma; sem ti estou perdido e danado, porque és a vida da alma e vida da vida; sem ti sou estéril e árido, porque és a fonte de todos os dons e de todas as graças; sem ti estou de todo desconsolado, porque és Jesus nossa redenção, amor e desejo, pão reconfortante e vinho que alegra os coros dos anjos e os corações de todos os santos. 

     Alumia-me, mestre graciosíssimo e pastor piedosíssimo, porque o desejo dos santos homens, ao qual Deus tarda a atender, os abrasa em mais alto amor e mérito, Cristo bendito se parte sem ouvi-lo e sem falar-lhe nada e desapareceu pelo dito atalho. Então Frei João se levantou e corre atrás dele novamente se lhe lança os pés, e com santa importunidade o retém e com devotíssimas lágrimas roga, e diz:” Ó Jesus Cristo dulcíssimo, tem misericórdia de mim o atribulado, atende-me pela multidão de tua misericórdia e pela verdade da tua salvação, restitui-me a letícia da face tua e do teu piedoso olhar, porque de tua misericórdia é plena toda a terra”. E Cristo ainda se parte e faz como a mãe ao filho quando o deixa gritar pelo peito e faz que venha atrás dela chorando a fim de que ele mame com mais vontade. Pelo que Frei João com mais fervor ainda e desejo seguiu a Cristo; e chegando que foi a ele, Cristo bendito voltou-se e olhou-o com o semblante alegre e gracioso; e abrindo os seus santíssimos e misericordiosos braços, abraçou-o dulcissimamente: e naquele abrir de braços viu Frei João sair do sacratíssimo peito do Salvador raios de luz esplendentes, os quais iluminavam toda a floresta como também a ele na alma e no corpo. Então Frei João se ajoelhou aos pés de Cristo; e Jesus bendito, como fez à Madalena, lhe deu o pé benignamente a beijar, e Frei João, tomando-o com suma reverência, banhou-o de tantas lágrimas que verdadeiramente parecia uma outra Madalena, e dizia devotamente: “Peço-te, Senhor meu, que não olhes os meus pecados; mas pela tua santíssima paixão e pela efusão do teu santíssimo sangue precioso, ressuscita minha alma à graça do teu amor; como é teu mandamento, que te amemos com todo o coração e com todo o afeto; qual mandamento ninguém pode cumprir sem a tua ajuda. Ajuda-me, pois, amantíssimo filho de Deus, para que te ame com todo o meu coração e todas as minhas forças.” E estando assim Frei João neste falar aos pés de Cristo, foi por ele atendido e recuperou a primeira graça, isto é, a da flama do amor divino, e todo sentiu-se consolado e renovado: e conhecendo que o dom da divina graça tinha voltado, começou agradecer ao Cristo bendito e a beijar-lhe devotamente os pés. E depois erguendo-se para o ver de face, Jesus Cristo lhe estendeu e deu-lhe as santíssimas mãos a beijar; e beijadas que foram Frei João se aproximou e encostou-se ao peito de Jesus e abraçou-o e beijou-o, e Cristo semelhantemente beijou-o e abraçou-o. E neste abraçar e neste beijar Frei João sentiu tanto olor divino que, se todas as especiarias e todas as coisas odoríferas do mundo estivessem reunidas, teriam parecido um aroma vil em comparação daquele olor. E com isso Frei João foi arrebatado e consolado e iluminado, e durou-lhe aquele odor na alma muitos meses. E dora em diante de sua boca abeberada na fonte da divina sapiência no sagrado peito do salvador, saíam palavras maravilhosas e celestiais as quais mudavam os corações de quem o ouvia e faziam grandes frutos nas almas. 

     E no atalho da floresta, no qual estiveram os benditos pés de Cristo, e por grande distância em torno, Frei João sentia aquele olor e via aquele esplendor sempre quando ia ali muito tempo depois. Voltando a si Frei João após aquele rapto, e desaparecida a presença corporal de Cristo, ficou tão iluminado a alma pelo abismo de sua divindade, que, ainda não sendo homem letrado por humano estudo, no entanto maravilhosamente resolvia e explicava as sutilíssimas questões da Trindade divina, e os profundos mistérios da santa Escritura. E muitas vezes depois, falando diante do papa e dos cardeais, de reis e barões e mestres e doutores, os punha a todos em grande estupor pelas altas palavras e profundas sentenças que dizia. Em louvor de Cristo. Amém.

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Fonte: Crônicas e Outros Testemunhos do Primeiro Século Franciscano. 9° Ed. Petrópolis: Vozes, 2000, p: 1180.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

POSIÇÃO DA AIS

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 Há meses o mundo está sendo abalado por relatos de casos de abusos sexuais, inclusive na Igreja Católica. São atingidas crianças, a respeito das quais Cristo diz: "Quem provocar a queda de um só destes pequenos que crêem em mim, melhor seria que lhe amarrassem ao pescoço uma pedra de moinho e o lançassem no fundo do mar" (Mt 18,6).
A situação é muito séria. Os ataques ao Papa e à Igreja saíram totalmente de controle. Com este artigo especial a AIS se posiciona sobre esse assunto.
A cusparada atingiu o jovem padre de cheio no rosto. Transbordando ódio, o turista desconhecido lhe gritou: “Pedófilo asqueroso!”. Silêncio. Os outros visitantes da Acrópole de Atenas olham distraidamente para a perfeita fileira de colunas de mármore. Ninguém faz nada, enquanto o jovem padre, cabisbaixo, limpa o rosto. Por esses dias se escutam muitas histórias desse tipo. Ao descer de um trem, um padre que há quarenta anos serve abnegadamente o Evangelho é alvo das mesmas palavras de insulto. Uma casa de religiosas recebe telefonemas anônimos ofensivos...
Uma histeria coletiva se espalha, insuflada pelos poderosos da Televisão e pelos intocáveis papas de um jornalismo pseudointelectual. É lógico que algumas reações espontâneas sejam compreensíveis. De consequência, um sofrimento incrível. A vergonha se manifesta. Os abusos, o silêncio culposo, os erros estúpidos, o covarde desvio de atenção - tudo isso são fatos reais e muito graves. Jesus Cristo terá de lavar o rosto de sua Igreja. Todos nós teremos de redescobrir a audácia de Deus ao confiar a homens tão fracos um dom tão grande como é o sacerdócio.
Essa hora triste exige que todos nós saibamos redescobrir o valor da reparação solidária e façamos penitência por aqueles 0,1 por cento de padres que comprovadamente cometeram esses crimes tão deploráveis. Mas também deveríamos agradecer de joelhos por todos aqueles que mantêm com fidelidade sua consagração e missão. Eles são mais de 400.000 espalhados pelo mundo todo.
A indústria superficial do entretenimento, a frivolidade tornada sistemática que domina praticamente todo o público, criaram um ambiente geral de ingenuidade simplista, de superficialidade e de escasso senso crítico e reflexão. Existe uma multidão amorfa só à espera da nova manchete sobre namoricos e brigas de políticos, de atores ou de cantores da moda. Vazio espiritual. Nesse vácuo se empurra uma imagem estereotipada do sacerdote; cospe-se no seu celibato; sua doação a Deus é entregue ao escárnio. Os resultados de pesquisas muito sérias são ignorados ou distorcidos. Ninguém dá atenção para os especialistas quando comprovam que não existe nenhuma relação entre o celibato dos padres católicos e a tremenda profanação representada por qualquer abuso quando cometido por ministros consagrados.
Basta! É imoral continuar torcendo os fatos dessa forma. Estamos saturados dessa farsa, desse duplo abuso: um problema que é inegável está sendo usado para solapar com más intenções a legítima autoridade moral da Igreja, dessa Igreja de Pedro e de Paulo, dessa Igreja de João Paulo II e de Bento XVI.
Nós vivemos num mundo pelo avesso. Num arranha-céu em Nova York, um jornal dita à sociedade o que ela deve pensar e em que deve acreditar. Ele põe em circulação afirmações sem fundamento. Depois, não aceita as contestações baseadas em fatos contundentes e em investigações sérias dos mais renomados especialistas. A campanha pré-fabricada a sangue frio tem de continuar. Não é a verdade o que importa. O que vale é a tenebrosa intenção de silenciar a voz da Igreja Católica, que se faz escutar no mundo inteiro. Porque a Igreja é uma das poucas instituições que se atrevem a enfrentar a ditadura do relativismo do nosso tempo. Isso a torna incômoda. É por isso que querem eliminá-la.
Nessa situação, ninguém tem o direito de desviar o olhar, como fizeram aqueles turistas da Acrópole. Todos são chamados a serem ativos. A resposta começa no coração e na consciência de cada um. Penitência e oração são as primeiras coisas. Também é importante conversar à mesa no círculo familiar, esclarecer as idéias entre os colegas de trabalho ou de escola. É questão de seriedade na fé.
Trinta e dois anos atrás tive a ocasião de conhecer pessoalmente Bento XVI - um dom de Deus. Há pouco tempo me encontrei novamente com ele para uma conversa intensa de meia hora sobre questões da Nova Evangelização. O Papa analisava as situações com clareza total. Sempre chegava ao âmago das coisas. A cada momento ele irradiava benevolência e alegria. Esse sacerdote extraordinário, talvez a pessoa mais culta do nosso tempo, sempre aderiu com fidelidade inquebrantável à doutrina de Cristo e à sua aplicação coerente na vida real. Sem medo. Pelo contrário. Com razão o arcebispo de Viena, o Cardeal Christoph Schönborn, e o arcebispo Nichols de Westminster na Inglaterra, chamaram a atenção justamente nesses dias para esse fato, que pode ser facilmente comprovado inclusive pela mídia: já há muitos anos Joseph Ratzinger foi aquele que mais trabalhou para extirpar o câncer criminoso do abuso sexual. É ele que nos ensina que não se defende a boa fama da Igreja acobertando piedosamente os fatos, ou brandindo uma retórica feita de meias verdades. Só a plena verdade nos possibilitará sair dessa noite da vergonha para a luz do sol de um novo começo.
Na sua recente "Carta aos católicos da Irlanda", Bento XVI nos propôs toda uma série de providências imediatas muito precisas. Todos deveríamos aprender com essa crise.
A primeira medida: a preocupação com as vítimas, com o máximo respeito e delicada eficiência. Trata-se de reparar o máximo possível os danos e aliviar as profundas chagas abertas. Depois: orientar a seleção das vocações ao sacerdócio por critérios ainda mais rigorosos, para excluir esses casos o máximo possível. (Isso implica também a colaboração de profissionais apropriados. E para isso a Ajuda à Igreja que Sofre gostaria também de oferecer ajuda aos Bispos.) Nesse contexto é necessário continuar desenvolvendo uma pedagogia especial na questão da afetividade dos futuros sacerdotes. Também os padres que já atuam na pastoral devem ser acompanhados de maneira mais intensa para que possam irradiar uma santidade ainda maior em sua vida e para que, crescendo ainda mais a sua paternidade na fé, possam doar um afeto sólido e maduro.
Um psiquiatra de renome internacional, Manfred Lütz, vê a sociedade diante de um transbordamento emocional, numa espécie de crise de puberdade da cultura pós-moderna. Não poucas das acusações infundadas seriam ataques irracionais, como de adolescentes, contra a Igreja. Elas seriam desfechadas porque a Igreja é uma instituição grande, que defende princípios não negociáveis. No fundo, diz Lütz, pretende-se destruir a imagem do pai na sociedade. Por isso se rejeita o Papa e se ataca injustamente a autoridade moral dos padres. E nós poderíamos acrescentar: em última análise trata-se de um ataque à mensagem central do Evangelho proclamado por Jesus: Deus é o "Pai nosso", cheio de justiça e de compaixão.
Antes de crucificarem Cristo, eles bateram e cuspiram nele. Após a Sexta-feira Santa veio a Páscoa. Mas o rosto de Jesus continua chorando na sua Igreja. A Ajuda à Igreja que Sofre permanecerá sempre como um instrumento a serviço do Bispo de Roma, para proteger os cristãos perseguidos e para auxiliar os anunciadores do Evangelho. Nesse momento histórico o ponto mais nevrálgico da Igreja é o futuro do sacerdócio... Talvez o sacerdote que hoje está mais em necessidade se chame Bento XVI. Não o deixemos sozinho. E vocês, não nos deixem sozinhos quando procuramos juntos ajudar o Papa. Sejam muito generosos. Obrigado.

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Fundada em 1947 pelo Padre Werenfried van Straaten, inspirado na mensagem de Fátima, a Associação Internacional Ajuda à Igreja que Sofre é uma Organização Pública de Direito Pontifício, tendo por missão apoiar projetos de cunho pastoral em países onde a Igreja Católica está em dificuldades.
No início, o trabalho da Ajuda à Igreja que Sofre consistia apenas em auxiliar os refugiados da Alemanha do Leste que fugiam da ocupação comunista, mas rapidamente se espalhou pelos campos de refugiados da Europa e da Ásia, pelas Repúblicas Populares comunistas, pela América Latina e pela África.
Hoje, os desafios são muitos: auxiliar padres, religiosas e leigos na pastoral em regiões mais carentes, motorização e transporte para atendimento às comunidades, catequizar crianças pobres, apoiar seminaristas das dioceses mais necessitadas, além de construir e reconstruir igrejas, capelas e centros pastorais em lugares afetados por catástrofes, guerras e miséria.
A AIS recebe apelos urgentes de comunidades carentes que não têm mais a quem apelar: são mais de 10.000 pedidos de apoio por ano no mundo, mas só podemos atender cerca de 6.000, dos quais mais de 600 somente no nosso Brasil.
Associação Brasileira Ajuda à Igreja que Sofre

terça-feira, 20 de abril de 2010

Uma oração profunda e verdadeira





 Por Prof. Pedro M. da Cruz



“Rezamos com a porta fechada quando invocamos, sem descerrar os lábios, Aquele que não leva em consideração as palavras, mas olha o coração.” (J. Cassiano)

A oração é um encontro amoroso, íntimo e profundo entre o homem e Deus; é colocar-se intensa e suavemente na presença divina; arrancar todas as máscaras; revestir-se de santa humildade. Não penses que ela consista propriamente em “muito falar[1], pois, na realidade é, antes de tudo, consciência e verdade; uma lembrança incessante de Deus acompanhada da visão sincera de si mesmo. 

Só um louco pretenderia enganar a Deus; ora, isso seria impossível. Nenhuma criatura está invisível ante os olhos do Senhor, tudo está nú e descoberto perante sua face.[2] Sendo assim, por que nos cansarmos tanto com o infrutuoso trabalho de nos escondermos do Criador, qual Adão no paraíso?[3] Por que continuarmos a imaginar que seria mais sensato ocultarmos fatos de nossa vida como matéria indigna da oração? O Homem só é plenamente ele mesmo quando está, de fato, na presença de Deus; dizemos “de fato” porque, talvez estejamos mais ausentes do que podemos imaginar. “Ser” e “Estar” se fundem; assim, à medida que mais intensamente “estamos” aos pés do Altíssimo, mais “somos” nós mesmos. Alí, na oração, todas as nossas virtudes, assim como, todas as nossas imperfeições, desfilam perante os olhos do Senhor; e não há o que temer, pois, Deus se alegra com nossa sinceridade.

A persistência em ocultar qualquer defeito e limitação que seja na Vida Espiritual é grande impedimento para a felicidade. Perante Deus, portanto, há que se abrir o coração! Mesmo que esse ato de amor custe à nossa alma e venha acompanhado de forte dor e lágrimas.[4] Fala, pois, de seus medos, e não encubras suas mazelas e desejos, mesmo os mais mesquinhos; descreva-os com detalhes, sem receios; afirme-os como seus, só seus, todo seus. Fala dos traumas, daqueles fatos mais dolorosos, daquilo que te escraviza, sim, daquilo que te envergonha. Isso, se feito com sabedoria e discernimento - tenha certeza - acarretará grande proveito espiritual. 

Esse “falar”, muitas vezes, não implica necessariamente em palavras, mas sim, em “saber-se”, sentir-se como tal. É no calor do abraço divino que se derretem nossas imperfeições e se desfazem nossas formas indevidas. Uma oração verdadeira e profunda é mais densa que prolixa.[5] O silêncio, intensificado pelo desejo, mesmo que não pareça, é mais ativo e eficaz que a mera conversação vazia a que tantos insensatos pretendem nos obrigar. As palavras, porém, quando realmente carregadas de sentido, são, na verdade, a roupagem do silêncio... no entanto, deixemos para outro momento este aspecto da oração para nos fixarmos mais propriamente naquilo que temos abordado. 

Disse Jesus: “Ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai que vê o oculto te recompensará.”[6] Este era o conselho que o divino Mestre dava aos seus seguidores com firme propósito de que vencessem a hipocrisia e o orgulho. Bom, mas que recompensa seria esta a que se referia o Redentor? Não seria também o progresso na Vida Espiritual? E, se “primeiro vem o homem, depois o santo” como alguns costumam se expressar, então torna-se claro que esta recompensa de que nos fala o Salvador alcançará o ser humano em sua totalidade, integrando-o em sua relação consigo mesmo, mas, também, com os outros, tudo isso, obviamente, numa concomitante e progressiva inter-relação entre ele e Deus. 

Veja, caro leitor, que a prática da oração pessoal, se profunda e verdadeira, tem como conseqüência certa, a transformação total da vida do indivíduo em suas várias relações. Creio, que se nos perguntassem, por exemplo, o motivo de a sociedade atual encontrar-se em tal estado de letargia e desordem em que a vemos, poderíamos responder, e com toda a sinceridade, que é devido ao abandono de um verdadeiro exercício espiritual. Poucos rezam muito, e muitos desses poucos rezam mal. 

Eleva, pois, sua mente a Deus; toma consciência da “amável presença” e revele-se perante a Santíssima Trindade. Assim, serás qual barro nas mãos do oleiro, e o divino Espírito poderá fazer de ti aquilo que bem entender. Verás, que no silêncio da oração tudo pode acontecer! 

Finalmente, não queremos ser causa de desânimo para ninguém: seja qual for o grau a que chagares em suas buscas o que importa é prosseguir decididamente na prática espiritual.[7] Que Nossa Senhora do Bom Conselho, exemplo de terna intimidade para com Deus, possa guiar-nos com segurança nessas misteriosas veredas do Espírito Santo, amém. 




[1] Conf. Mat. 6, 7. “A oração é uma ‘conversação’ do espírito com Deus.” (Evágrio Pôntico)
[2] Conf. Heb. 4, 13
[3] Conf. Gen. 3, 8-10
[4] De Cristo se diz: “Nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade. Embora fosse filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve.”(Hebr.5,7-8)
[5] “Por oração, não entendo o que está apenas nos lábios, mas a que brota do fundo do coração.(J. Crisóstomo)
[6] Conf. Mat. 6, 6
[7] Conf. Fil. 3,16

sexta-feira, 16 de abril de 2010

MEU BENTO XVI


 
 

Por Dom Henrique Soares da Costa, Bispo Auxliar de Aracajú


     Nunca escondi meu profundo amor por Joseph Ratzinger. É antigo: desde 1981. Em novembro daquele ano, seminarista em férias, li um texto seu. Lá havia uma frase do então Cardeal Arcebispo de Munique: “Ninguém é maduro de verdade até que tenha enfrentado sua própria solidão!” Meus olhos marejaram (como marejam agora, neste momento). Pensei: quem afirma isto só pode ser um homem de verdade, só pode ser alguém que tem uma profunda experiência de Cristo! Eis aqui um homem de Igreja que continuou homem, com um coração, com sensibilidade, com retidão!

Um ano depois, dei com uma entrevista do Cardeal, agora nomeado Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Ele afirmava: “O primeiro dever do Bispo é defender a fé dos pequenos contra a prepotência de alguns teólogos...” Vibrei de alegria! O homem era realmente católico em cada fibra: sabia que a fé supera a razão e que o Mistério não se apreende em profundidade a não ser de joelhos e bebendo a límpida fé da Mãe Igreja, fé que se manifesta sobretudo nos pequenos, nos simples, no Povo de Deus em seu dia-a-dia.

Ratzinger tornou-se para mim uma referência. Doíam-me tanto as calúnias contra ele, as afirmações de muitos adeptos da Teologia da Libertação, que deformavam a imagem e o pensamento do Cardeal de modo vergonhosamente desonesto. Lembro-me das declarações pervertidas de Leonardo Boff e companhia a respeito do Cardeal Prefeito que, generosamente, ajudara ao próprio Boff nos tempos de estudo na Alemanha... Aqui no Brasil, as editoras católicas o censuravam metodicamente... Se algum seu escrito perdido aparecia, era dos menos expressivos e importantes... A imprensa só falava do Cardeal para criticá-lo, insuflada por certos setores da Igreja no nosso País...

A coisa intensificou-se quando da doença de João Paulo II. Agora era preciso queimar de vez o Cardeal da Inquisição, o Desumano, o Ditador... Foi uma pesada campanha dentro e fora da Igreja, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa... As pessoas nunca leram nada de Ratzinger, mas o antipatizavam de todo o coração. Recordo do conhecido jornalista Alexandre Garcia, que confessou ter comprado livros de Ratzinger e lido seus textos. Tomou um susto: o homem que escrevera aquelas coisas não era nada daquele monstro que diziam... Eis: o preconceito, filho da ignorância e irmão da má-fé!

E veio o Conclave. Aquele que no céu tem o seu trono riu-se dos planos dos homens e zombou dos grandes e sabidos deste mundo. Ratzinger tornou-se Bento XVI! Ouvi entrevistas, vi matérias na imprensa nacional e internacional simplesmente vergonhosas, vi entrevistas de teólogos – recordo de um da PUC de São Paulo à TV alemã – simplesmente revoltantes: mentirosas, desonestas, caluniadoras, sem caridade...

E aí está Bento XVI: amado por seu rebanho e por tantas pessoas de boa vontade, pela gente simples, cristã, de DNA católico; homem profundo, mergulhado em Cristo, nele alicerçado; homem doce e ao mesmo tempo tão firme; homem que não tem medo de proclamar a verdade, sem gritar, sem impor, mas sem jamais escondê-la: mostra-a inteira, límpida, serena, cortante, libertadora!

No tocante à vida moral do clero, menos de um mês antes de ser eleito Papa, na via-sacra do Coliseu, afirmou sem meias palavras, desgostando a muita gente: “E que dizer da terceira queda de Jesus sob o peso da cruz? Pode talvez fazer-nos pensar na queda do homem em geral, no afastamento de muitos de Cristo, caminhando à deriva para um secularismo sem Deus. Mas não deveríamos pensar também em tudo quanto Cristo tem sofrido na sua própria Igreja? Quantas vezes se abusa do Santíssimo Sacramento da sua presença, frequentemente como está vazio e ruim o coração onde Ele entra! Tantas vezes celebramos apenas nós próprios, sem nos darmos conta sequer d’Ele! Quantas vezes se distorce e abusa da sua Palavra! Quão pouca fé existe em tantas teorias, quantas palavras vazias! Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta autossuficiência! Respeitamos tão pouco o sacramento da reconciliação, onde Ele está à nossa espera para nos levantar das nossas quedas! Tudo isto está presente na sua paixão. A traição dos discípulos, a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue é certamente o maior sofrimento do Redentor, o que Lhe trespassa o coração. Nada mais podemos fazer que dirigir-Lhe, do mais fundo da alma, este grito: Kyrie, eleison – Senhor, salvai-nos (cf. Mt 8, 25)".

Um homem assim não passa despercebido: ou é amado ou profundamente odiado! E há muitos que odeiam este santo e bendito Papa! Foi ele que, logo ao assumir, suspendeu o Padre Marcial Maciel, sacerdote famoso e muito apreciado por João Paulo II (o Papa João Paulo desconfiava muitíssimo de acusações na área de pedofilia, porque os comunistas poloneses utilizavam muitas acusações falsas como modo de desmoralizar o clero polaco. Isto criou em João Paulo II uma tendência a não dar muito crédito às acusações. Sempre que via um padre zeloso ser acusado, a tendência era logo recordar as mentiras dos comunistas poloneses... daí, a lentidão do processo do Pe. Macial. Foi um erro compreensível, mas um erro). Bento XVI não! Suspendeu o Pe. Maciel e determinou que vivesse seu fim de vida de modo recluso e sem contato algum com os fieis, numa vida de oração e penitência. O mesmo com o conhecidíssimo italiano Pe. Luigi (Gino) Burresi. Sua punição foi severíssima. Aos Bispos sempre recomendou tolerância zero com a pedofilia. Em seus pronunciamentos sobre o tema, nunca, Papa algum foi tão direto, claro e radical: na Igreja não há lugar para pedófilos. Os pedófilos devem ser demitidos do estado clerical e os Bispos devem comunicar à justiça comum! Tanto que em seu pontificado os casos de pedofilia desabaram...

Mas, nada disso interessa à imprensa, sobretudo aos jornais anticatólicos como New York Times, La Repubblica, El País, Spiegel... Para estes não interessa a verdade: interessam os fatos distorcidos, as meia verdades que, somadas, dão uma enorme mentira, uma triste difamação, uma calúnia monstruosa... O mesmo fizeram com Pio XII... Qual o objetivo? Desautorizar um Papa incômodo, cuja única preocupação é testemunhar o Cristo com toda a inteireza da fé católica. E nada é tão incômodo e antipático quanto isto! Por isso mesmo, tudo quanto este Papa diga ou faça é distorcido, deformado e, depois, duramente criticado, até ao paroxismo...

Mas, Bento XVI seguirá seu caminho! No meu primeiro encontro com ele como Bispo novo com o Sucessor de Pedro, disse-lhe: “Santo Padre, o Povo de Deus lhe quer bem! Nós rezamos por Vossa Santidade, nós estaremos sempre ao lado de Vossa Santidade!” Ele sorriu aquele sorriso tímido, mas tão humilde e franco e disse: “Obrigado! Muito obrigado! Eu preciso tanto do vosso sustento!” Só quem não o conhece poderia pensar que ele se dobra! Ninguém é tão perigosamente livre, é tão docemente forte quanto o homem que fez de Cristo o seu refúgio, a sua luz, a sua certeza! Bento XVI – santo Bento XVI, bendito Bento XVI! – é assim.

Hoje, 29 anos depois daquele 1981, quando, de coração apertado, imagino a dor e a solidão deste homem de Deus, consolo-me pensando no gigante que ele é e vem-me forte, mansa, decidida, certa, a sua palavra: “Ninguém é maduro de verdade até que tenha enfrentado sua própria solidão!” Bento XVI é maduro, Bento XVI não tem medo da própria solidão, pois ela é toda povoada por Cristo!

Deus o abençoe sempre, Padre Santo! Deus o abençoe e o livre das mãos de seus ferozes e maldosos inimigos!

Fonte: http://costa_hs.blog.uol.com.br/arch2010-03-21_2010-03-27.html


Data da publicação: 30/03/2010

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Clima artificial de pânico moral - Sobre os casos de pedofilia na Igreja




Por Rafael Navarro-Valls
Suspeito de que há um clima artificial de “pânico moral” em criação, de que faz parte certa pandemia midiática ou literária centrada nos “desvios sexuais do clero”, convertido numa espécie de pântano moral
Um tribunal de Haia decidiu em julho de 2006 que o partido pedófilo “Diversidade, Liberdade e Amor Fraternal” (PNVD na sigla em holandês) “não pode ser proibido, já que tem o mesmo direito de existir que qualquer outro grupo”. Os objetivos desse partido político eram: reduzir a idade de consentimento para relações sexuais a 12 anos, legalizar a pornografia infantil, a exibição de material pornográfico pesado na televisão em horários diurnos e autorizar a zoofilia. Digo que eram porque o tal partido fechou esta semana. Ao que parece, um fator decisivo para isso foi a “dura campanha” levada a cabo em todas as frentes, inclusive na internet, pelo sacerdote católico F. Di Noto, implacável na sua luta contra a pedofilia.

Essa boa notícia – cujo protagonista é um sacerdote católico – coincide com outra ruim, também protagonizada por sacerdotes. Refiro-me à tempestade midiática desencadeada pelos abusos sexuais cometidos por alguns clérigos contra menores de idades. Eis os dados: 3.000 casos de sacerdotes diocesanos envolvidos em delitos cometidos nos últimos cinquenta anos, embora nem todos tenham sido declarados culpados pela lei. Segundo Charles J. Sicluna – como que um fiscal geral do organismo da Santa Sé encarregado desses delitos –: “60% dos casos são de «efebofilia», ou seja, de atração sexual por adolescentes do próprio sexo; 30% são de relações heterossexuais, e 10%, de atos de pederastia verdadeira e própria, isto é, casos de atração sexual por crianças impúberes. Estes últimos somam trezentos aproximadamente. Um já seria muito, mas também temos de reconhecer que o fenômeno não é tão difundido como dizem”.

Com efeito, se levarmos em conta que hoje existem cerca 500.000 sacerdotes diocesanos e religiosos, os números – sem deixar de ser tristes – constituem uma porcentagem em torno de 0,6%. O estudo científico mais sólido que conheço feito por um autor não católico é o do professor Philip Jenkins, Pedophiles and Priest - Anatomy of a Contemporary Crisis (Oxford University Press). Sua tese é de que a proporção de clérigos com desordens sexuais é menor na Igreja Católica que em outras confissões. Sobretudo, é muito menor que em outros modelos institucionais de convivência organizada. Se tais comportamentos chamam mais a atenção na Igreja Católica hoje do que antes, é porque a organização de Roma permite recolher informações, contabilizar e conhecer os problemas com mais rapidez que em outras instituições e organizações, confessionais ou não.

Há dois exemplos recentes que confirmam as análises de Jenkins. Os dados fornecidos pelas autoridades austríacas indicam que, num mesmo período de tempo, os casos de abusos sexuais ocorridos em instituições vinculadas à Igreja foram 17, ao passo que em outros ambientes foram 510. Segundo um informe publicado por Luigi Accatoli (um clássico do Corriere della Sera), dos 210.000 casos de abusos sexuais registrados na Alemanha desde 1995, apenas 94 estão relacionados com pessoas e instituições da Igreja Católica, o que representa 0,045% do total.

Suspeito de que há um clima artificial de “pânico moral” em criação, de que faz parte certa pandemia midiática ou literária centrada nos “desvios sexuais do clero”, convertido numa espécie de pântano moral. Não deixa de ser uma prática já conhecida, mas que nos últimos dias passou dos limites quando vieram a público os crimes cometidos na Alemanha, na Áustria e na Holanda. A campanha faz lembrar as lendas negras sobre o tema na Europa Medieval, na Inglaterra dos Tudor, na França revolucionária ou na Alemanha nazista.

Concordo com a observação de Jenkins: “a propaganda permanente da pedofilia foi um dos meios de propaganda e perseguição utilizados pelos políticos alemães na sua tentativa de destruir o poder da Igreja católica, especialmente no âmbito da educação e dos serviços sociais”. Himmler fez a acusação de que “nenhum crime cometido pela Igreja carecia de perjúrio, do incesto ao assassinato sexual”, comentando ainda que ninguém sabe ao certo o que se passa “por detrás das paredes dos mosteiros e da fileiras de Roma”. Como então, hoje também misturam dados e fatos com insinuações e equívocos intencionais. No final das contas, a impressão é que a única culpada dessa triste situação é a Igreja católica e sua moral sexual.

Assim, fica evidente que o problema é grave o suficiente para que abordá-lo diretamente. Encontremos as suas causas. Devo admitir que me chamou a atenção a ênfase que Bento XVI pôs nas suas repetidas condenações desses abusos durante sua viagem aos Estados Unidos. Os analistas esperavam alguma referência ao tema. Mas o fato de ele aludir quatro vezes aos escândalos me surpreendeu. Na verdade, essa questão tem suas raízes nos anos sessenta e setenta, mas eclode no começo do novo milênio, com os pedidos de indenização por parte das vítimas. Algo, pensava eu, pertencente ao passado. A um passado que coincidiu com os calores da revolução sexual dos anos sessenta. Foi então que se descobriu entre outras “filias” e fobias, a “novidade” da pedofilia, mirando, entre outros objetivos, da demolição das “muralhas” levantadas para impedir o contato erótico entre adultos e menores. Quem não se lembra – naqueles anos – de Mrs. Robinson e Lolita...? Se cavarmos um pouco descobriremos que alguns dos mais inflexíveis “moralistas” atuais, foram apóstolos ativos da liberação sexual dos anos sessenta e setenta.

Essa revolução marcou uma cultura e a sua época, deixou um sulco profundo, que contagiou também certos ambientes clericais. Assim, algumas Universidades católicas da América e da Europa passaram a transmitir conceitos equivocados da sexualidade humana e da teologia moral. Como aconteceu com toda uma geração, alguns seminaristas não ficaram imunes a isso e acabaram por agir indignamente. João Paulo II combateu essa podridão com energia, revogando a licença de alguns professores dessas Universidades, dentre eles Charles Curran, expoente icônico da corrente.

Bento XVI, não obstante as raízes antigas do problema, decidiu tratar com tolerância zero uma questão que mancha a honra do sacerdócio e a integridade das vítimas. Por isso, as muitas referências ao tema nos Estados Unidos e a sua rápida reação, convocando em Roma os responsáveis assim que o problema eclodiu nalgumas dioceses irlandesas. De fato, acaba de tornar-se pública uma dura carta à Igreja na Irlanda em que o Papa chama de “traidores” os culpados dos abusos e anuncia, entre outras medidas, uma rigorosa inspeção em dioceses, seminários e organizações religiosas.

Acaba sendo sarcástica a tentativa de envolver em escândalos sexuais algum dos sacerdotes da diocese governada pelo então arcebispo Ratzinger. Ainda mais quando sabemos ter sido justamente o cardeal Ratzinger que, como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, assinou em 18 de maio de 2001 a circular “De delictis gravioribus” (“Sobre os crimes mais graves”) que previa duras medidas contra esse tipo de comportamento. O próprio fato de reservar à Santa Sé o julgamento a respeito dos casos de pedofilia (e também dos atentados contra os sacramentos da Eucaristia e da Confissão) reforça a gravidade em que ele os têm, bem como a determinação de que o juízo não seja “condicionado” por outras instâncias locais, potencialmente mais influenciáveis.

Além do mais, em todos os ambientes há ovelhas negras. Nigel Hamilton escreveu o seguinte sobrea presidência dos EUA: “Na Casa Branca já tivemos estupradores, galinhas, e, usando um eufemismo, pessoas com preferências sexuais pouco habituais. Tivemos assassinos, escravagistas, corruptos, alcoólatras, viciados em jogo e em todo o tipo de coisa. Quando um amigo perguntou ao presidente Kennedy por que permitia que a luxúria dessa gente interferisse na segurança nacional, ouviu: “Não posso evitar”.

A Igreja é uma das poucas instituições a não fechar janelas nem portas diante do problema até passar a tormenta. Não se encolheu sobre si mesma “até que os bárbaros voltem aos bosques”. Encarou o problema, endureceu a sua legislação, pediu perdão às vítimas, pagou indenizações e foi implacável com os agressores. Denunciemos os erros, sempre, mas sejamos justos com aqueles que querem sim – diferentemente de Kennedy – evitá-los.
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Fonte: http://www.quadrante.com.br/
Rafael Navarro-Valls
Catedrático da Universidade Complutense e Acadêmico da Real Academia de Jurisprudência e Legislação
 

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Apologética Católica - Verdade Irrefutável

 Por Renato Cesar.


Às almas enamoradas de Cristo bendito, mando-lhes este video, fruto de um trabalho delicado com o intuito de mostrar a todos com humildade e piedade a verdade da autenticidade da nossa fé Católica. Bom proveito!