sábado, 17 de agosto de 2013

CONTRIÇÃO PERFEITA



Por Lucas Silva1
Ela perdoa imediatamente qualquer pecado, por grave que seja e reconcilia o pecador com Deus, já antes da confissão e mesmo sem confissão, quando esta é impossível, mas com o desejo de se confessar. Não há, porém, obrigação de se confessar sem demora, embora seja recomendável. Pode-se esperar até que urja a obrigação de comungar, porque, para isso a Igreja exige a confissão, embora se tenha contrição perfeita.

Com o estado de graça, recobram-se os méritos perdidos, a possibilidade de adquirir novos e a paz da consciência.

1) Que tesouro precioso em qualquer circunstância da vida. Alguém cai em um pecado mortal e não pode ou mesmo não quer confessar-se logo, mas acha duro e perigoso viver dias e semanas na inimizade de Deus, pode logo, com a contrição perfeita, alcançar o perdão e a paz da consciência.
Por conseguinte, depois de cair em um pecado grave, em lugar de passar um tempo considerável nesse triste e perigoso estado, em qualquer lugar, ou tempo, sem de chamar a atenção de ninguém, rezemos o ato de contrição perfeita. Infelizmente poucas são as pessoas que, por ignorância ou negligência, sabem beneficiar desse rasgo da misericórdia divina.

2) A contrição perfeita, tesouro preciosíssimo na hora da morte. Ela pode ser tábua de salvação para todos os homens, pagãos, judeus, protestantes, pecadores quaisquer, contanto que tenham o desejo sincero de fazer o que Deus manda se o conhecerem. E assim se verifica a palavra da Sagrada Escritura: Deus quer que todos os homens se salvem. E a prova desse querer é que Ele oferece a todos os que têm boa vontade esse meio de salvação. É o que faz dizer a Santo Tomás que Deus antes mandará um anjo para batizar um pagão que procura a seu Criador do que deixá-lo perder-se. Este anjo será um missionário que eventualmente se encontra ou um raio de luz divina que ilumina a alma e lhe inspira um ato de contrição perfeita que sendo um ato de caridade perfeita supre o batismo.2

Como exercitar a contrição perfeita:3

Hás de pressupor que a contrição perfeita é graça e grande graça do amor e misericórdia de Deus; e, se assim é, hás, portanto, de pedi-la com instância. Porém, não te contentes com fazê-lo somente quanto trates de excitar a contrição, porque o desejo de alcançá-la deve ser um dos mais ardentes anseios de tua alma. Pede-a, pois, dizendo: Senhor, dai-me a graça do perfeito arrependimento, da perfeita contrição dos meus pecados. E Deus não te faltará com a sua graça, se tiveres boa vontade.

Posto isto, repara como poderás facilmente conseguir a contrição perfeita. Põe-te diante de um crucifixo, na igreja ou na casa de tua habitação, ou senão imagina que o tens diante de ti, e, chorando de compaixão à vista das feridas do Senhor, pensa uns momentos com fervor: Quem é este que está pendente da Cruz e sofrendo nela?

— É Jesus, meu Deus e Salvador.
— Que sofre?
— As mais terríveis dores no corpo, tem-no ensangüentado e coberto de feridas; a alma, tem-na lacerada pelas dores e afrontas. Por que sofre tudo isso?
— Pelos pecados dos homens e... também pelos meus pecados; em meio de suas amarguradas dores, também pensa em mim, também sofre por mim, também quer expiar os meus pecados.
— Entretanto, deixa que o sangue redentor do Salvador, quente ainda, caia sobre ti, gota a gota, e pergunta a ti mesmo como tens correspondido ao teu Salvador, tão atormentado por ti.

Pensa um momento, recorda teus pecados, e esquece-te, se quiseres, do Céu, do inferno, e arrepende-te principalmente porque são eles que a tão miserando estado reduziram o teu Salvador; promete-lhe que não tornarás a crucificá-Lo com mais pecados e, por fim, reza, pausadamente e com fervor, acompanhando com sentimento interno, as palavras, a fórmula da contrição.

Esta oração ou fórmula pode ser diversa e ainda pode cada um servir-se para ela de suas próprias palavras. No fim do livrinho, encontrarás algumas; contudo juntarei aqui uma bastante vulgar:

Senhor meu e Deus meu: pesa-me, do mais íntimo do coração, de todos os pecados de minha vida, porque com eles tenho merecido que a vossa divina Justiça me castigasse na vida e na eternidade; porque tenho correspondido ao vosso amor com tanta ingratidão, sendo como Sois o meu maior benfeitor; porém, sobretudo, porque com eles Vos tenho ofendido a Vós, meu bem supremo e digno de todo o amor. Proponho firmemente emendar-me e não mais pecar. Dai-me, meu Jesus, a graça para cumpri-lo. Amém.”

Três porquês contém esta oração, e a cada porquê acompanha um motivo de contrição, primeiro da imperfeita, depois da perfeita; pois, da imperfeita se passa mais facilmente para a perfeita e é por isto conveniente unir as duas espécies de contrição. Em outras palavras, convém que se excite em primeiro lugar a contrição imperfeita e depois a perfeita. Dize, pois:

1— “porque com eles, tenho merecido...” Isto é ainda contrição imperfeita.
2— “porque tenho correspondido...” Esta vai já se aproximando da contrição perfeita e até se reduz a ela; porque, se deveras sinto ter correspondido com ingratidão e com pecados ao amor e bondade de Deus, necessariamente hei de querer ressarcir com amor esta ingratidão; e o sentir por amor a ofensa do benfeitor, a quem até agora se desconhecia, é já contrição perfeita, contrição de caridade para com Deus.
3— “porém, sobretudo, porque com eles Vos tenho ofendido...”

Para consegui-lo mais facilmente, podes acrescentar, mentalmente ou por palavras, o que segue: “porém, sobretudo, porque com eles Vos tenho ofendido a Vós, meu bem supremo e digno de todo o amor. Salvador meu que, por meus pecados, morrestes na Cruz”.

Depois vem o propósito: “Proponho...” — Porém, padre, dir-me-ás talvez — para outros, será isso muito fácil, mas para mim, é coisa muito difícil, quase impossível.
— Parece-te isso? Pois não o julgues tal, Deus te dará a graça para perseverar e diminuir as ocasiões de pecado. Não é impossível, visto que se tem a ajuda da graça.

Podes fazer esse exercício depois da confissão ou do exame de consciência, e faça-o muitas vezes, para evitar o quanto mais de cair em pecado mortal.

MARIA SEMPRE!


1 – O autor é residente na cidade de Montes Claros-MG, estudante secundário e acólito na Santa Missa Tridentina.
2- O pequeno Missionário, dos Missionários da Congregação da Missão, editora Vozes, Petrópolis, 8ª edição, 1958

3- Texto baseado no livro “A contrição perfeita – Uma chave de ouro para o céu”, por J. Driesch.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

ESCRAVIDÃO A NOSSA SENHORA-Parte 2



Prof. Pedro Maria da Cruz


“Escravo de Cristo, sim! Mas, de Maria?”


“Livre em relação a todos eu me fiz escravo de todos.” (I Cor. 9,19)

Passemos, entretanto, ao cerne de nossa reflexão: Vimos que é correto tomar a palavra “escravidão” em sentido positivo. Porém, e a expressão “Escravidão a Maria” não seria um exagero? 

Antes de tudo, citemos uma realidade incontestável: se for de fato possível essa escravidão, que boa senhora teremos... 

No entanto, sejamos “Bíblicos”, como pedem alguns:

Disse Jesus: “Se alguém dentre vós quer ser o primeiro, eu vos digo, que seja o escravo de todos.” (Mc. 10,44). Ora, “todos” significa “todos”; portanto, incluamos também aqui Maria Santíssima. Poderão retorquir: “Mas Nosso Senhor falava ao grupo dos apóstolos!” Ao que responderemos: não é verdade que as palavras de Cristo se aplicam de algum modo à generalidade dos homens, e exatamente por isso foram escritas? Ademais, está dito que toda Escritura é útil para ensinar (II Tm. 3,16). Deste modo, devo ser escravo de todos, inclusive da Virgem. Quem condenará então a expressão “Escravo de Maria”?

Além do mais, em outra parte está escrito: “Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que também eles estejam em nós.” (Jo. 17,21). Entendemos bem o que foi lido? Cristo pede ao Pai (e com certeza é atendido), para que todos nós estejamos Neles da mesma forma como Ele e o Pai estão presentes um no outro; ou seja, tendo posse em comum de tudo que lhes pertence. A conseqüência é lógica: Se estamos em Cristo e somos um com Ele, então todos os escravos de Cristo são nossos escravos, e todo o amor que Cristo dedica a eles também nós (Senhores e Escravos) o dedicaremos. Porém, sabemos muito bem que o grau de unidade com o Senhor depende do grau de nossa identificação voluntária com Ele, caso contrário Deus ofenderia a liberdade por Ele mesmo criada em nós. 

Ora, quem mais se identificou com Deus que Nossa Senhora, a cheia de graça e bendita entre todas as mulheres? (Lc.1,28.42). Alguém ousaria supor que a Mãe de Cristo, a quem todas as gerações chamarão bem aventurada (Lc.1,48), não tenha se tornado um com Ele? Caríssimo leitor, uma vez que Maria tornou-se “um” com Ele, então todos os escravos de Cristo são também escravos de Maria, e num sentido mais profundo pela unidade excepcional que a Mãe bendita tem com o Filho de Deus. Deste modo, os que se dizem “Escravos de Cristo” terão que dizer-se também, sem medo e com júbilo, “Escravos de Maria”.

Por não podermos nos alongar demais no curto espaço desse artigo, paremos nessa argumentação. Estamos cientes de que sendo “um” com o Redentor participamos de tudo o que lhe pertence, inclusive de sua divindade (II Pd. 1,4). Estimados leitores, se participamos da própria divindade do Filho de Deus, por que não participaríamos de seu senhorio de amor sobre as almas? Que Deus nos ensine a mística alegria da Escravidão.

“Mas, Maria está morta!”

“Deus não é Deus dos mortos, mas de vivos; são todos vivos para ele.” (Mt. 20,38)

Aos que fazem esse tipo de afirmação (de que Maria esteja morta¹ e, portanto, impossibilitada de agir em relação ao mundo) perguntamos: mas, os que partem desta vida não estão com Cristo? (Fil. 1,23). E, de tal modo estão vivos que podem, inclusive, clamar a Deus (Apo. 6,9-11). Quem não se recordaria do diálogo entre Jesus e o falecido Moisés na transfiguração? (Mt.17,3). Já nos esquecemos das preocupações do rico após sua morte? (Lc.16,19-31) “Mas essa era apenas uma parábola!” Comentará alguém. Sim, reconhecemos. O que não invalida a mensagem que estamos passando. Afinal, Nosso Senhor jamais se utilizaria de um erro para anunciar a verdade.

Infelizmente, muitos se encontram com visões equivocadas sobre textos do Antigo Testamento; como aquele de Eclesiastes que afirma: “Os mortos não sabem coisa alguma. Pra eles já não há mais recompensa.” Recordemos, no entanto, do que afirmara o Novo Testamento: “Até aos mortos foi anunciada a boa nova”. (I Pd. 4,6). Sim, o apóstolo Pedro afirmara com clareza que Jesus Cristo fora pregar o Evangelho inclusive aos espíritos desencarnados (I Pd. 3,19). Como alguém poderia então continuar pensando que os mortos não sabem de nada? Se não sabiam no Antigo Testamento, agora já o sabem. O Eclesiastes cumpriu sua função pedagógica...

O fato é: mesmo depois que Nossa Senhora foi habitar com Cristo no céu ela continua viva, “vivíssima!”, clamando a Deus; e, à medida que seu Criador o permita (pois, é “um” com Ele), ela age em favor daqueles que ainda peregrinam nesta terra, os seus escravos - porque escravos de Cristo.

Finalmente, alguém ousaria imaginar que a Mãe de Jesus Cristo tenha sido condenada ao inferno? Impossível, pois todas as gerações a deverão chamar Bem Aventurada (Lc 1,48), e Deus jamais ordenaria tratar assim alguém que se tenha desgraçado na eternidade do inferno. 

Alegremo-nos! Maria Santíssima vive no céu - como todos os eleitos já falecidos - e podemos ser seus escravos. Afinal, como já vimos, assim nos permite as palavras do próprio Cristo. Deste modo, estaremos inclusive imitando ao Senhor que assumira a condição de escravo (Fil.2,7). Não é verdade que devemos imitá-lo?

E não pensemos que na escravidão a Maria reine o medo, porque se me faço escravo por amor (e só dessa forma se deve fazer-se escravo) então, já não há mais temor em mim. O perfeito amor lança fora essa imperfeição (I Jo. 4,18).

Caríssimos, a escravidão a Nossa Senhora torna-se uma conseqüência lógica de todo aquele que se lhe submete amorosamente. Afinal, como dissera São Pedro, se é escravo “daquilo pelo qual se é dominado” (II Pd. 2,19). Abandonamos a escravidão do pecado (Rm. 6,6) e nos oferecemos a Maria Santíssima para lhe obedecer, tornando-nos assim, por conseqüência escravos daquela a quem obedecemos (Rm. 6,16).

Virgem de Guadalupe, rogai por nós! 

Maria Sempre! 

[1] Não trataremos aqui sobre a passagem de Nossa Senhora desta vida para o céu, mas somente de modo geral e sem maiores detalhes sobre a possibilidade de ela, estando entre os mortos, poder ou não agir em relação aos da terra.