domingo, 25 de maio de 2014

O QUE É O PECADO ORIGINAL

Quadro de Cornelis van Haarlem
retratando o pecado original


Por Helmer Ézion S. Souza


Segue abaixo interessante texto escrito pelo Reverendo Padre Julio Maria, missionário de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento. As linhas aqui expostas foram retiradas de seu livro “A mulher e a serpente” (1930), onde apresenta de modo fácil e ardoroso, substanciosas defesas contra inúmeros ataques daqueles que perseguem a única e verdadeira Igreja de N. Sr. Jesus Cristo.

Desejamos aos nossos leitores uma excelente reflexão! Maria Sempre!


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“Quando Deus creou os nossos primeiros pais Adão e Eva, outorgou-lhes dons de três qualidades, naturais, sobrenaturais e preternaturais; este estado é chamado: o estado de inocência, ou estado de justiça original.

O Creador, para lembrar aos nossos primeiros pais a sua dependência de creatura, proibiu-lhes que comessem do fruto da árvore do bem e do mal (Gen.II. 17).

Adão e Eva desobedeceram a Deus, e esta desobediência constitui o pecado original. Tudo isso figura na Bíblia (Gen.III. 6).

O tal pecado, sendo cometido pelo primeiro homem, passa a toda a sua posteridade. «Adão viveu, diz a Bíblia, e gerou a sua semelhança e conforme a sua imagem» (Gen. V. 3). Adão pecador, gerou outro pecador.

E lógico. Por um só homem, entrou o pecado no mundo, diz S. Paulo (Rom V. 12).

Todos nós, como filhos de Adão e Eva, nascemos com a alma manchada pelo pecado original.
Adão e Eva sendo expulsos do paraíso

O testemunho de São Paulo é explícito. «Assim como o pecado entrou no mundo por um só homem e pelo pecado a morte, assim também passou a morte a todos os homens, porque todos pecaram num só. (Rom V. 12).

Segundo São Paulo, houve, pois, pecado num homem só, e este pecado, com as consequências tornou-se universal, transmitido a todas as gerações. É o que fazia dizer ao Santo Rei David: Fui gerado na iniqüidade, e minha mãe concebeu-me no pecado. (Sal.50.7)

Eis a lei geral: Todos o homens, como filhos de um pai decaído, como o era Adão, nascem decaídos, do mesmo modo como de um Rei decaído, nascem filhos decaídos.”




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Referência bibliográfica:


MARIA, Padre Julio. A mulher e a serpente. Manhumirim: O lutador, 1930. Pág. 10 -11.

terça-feira, 20 de maio de 2014

APONTAMENTOS SOBRE O PAPADO - Parte III

S.S. Pio XII em sua sedia gestatória.
“Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (São Mateus)



Prof. Pedro Maria da Cruz

Abordemos rapidamente algumas questões levantadas por críticos do papado. Acreditamos que será de grande utilidade para todos nós que pugnamos na defesa das coisas de Deus. Sabemos das muitas barreiras que são colocadas perante os olhos de católicos sinceros tantas vezes mal formados por certa catequese superficial e desnorteada. 

Uma questão levantada refere-se à antiguidade do exercício da autoridade do Bispo de Roma (o papa) sobre a Igreja universal. Afirmam os desinformados que o papado seria uma instituição medieval inventada pela Igreja Católica (ou mesmo pelo Império Romano) como forma de centralização do poder. 

...ora, jamais poderiam ser verdadeiras tais afirmações. 

Há provas cabais de que o exercício de poder dos Bispos de Roma - os papas – remonta inclusive ao primeiro século da era cristã; o que prova sua irrefutável continuidade em relação à autoridade de São Pedro. 

Tiara papal
O pensador G. E. Dellegrave, em sua interessante obra por nós já citada, apresenta uma série de interferências papais nos cinco primeiros séculos da era cristã, o que comprova nossa assertiva. De acordo com ele, já no primeiro século da era cristã o papa Clemente Romano, terceiro sucessor de São Pedro, escreve aos Corintos resolvendo desavenças locais. Segundo consta, quem não obedecesse à sua carta incorreria em falta e se envolveria em grande perigo (DELLEGRAVE, pg. 100). Que bispo poderia interferir em outras comunidades cristãs senão o sucessor de Pedro? Afinal, só ele possuía autoridade sobre toda a Igreja e não simplesmente sobre seu rebanho local.

No século segundo o papa São Vitor ordenou aos bispos de todo o mundo cristão que se reunissem em Concilio para estabelecer definitivamente o dia da celebração pascal; e mais, ameaça de excomunhão aqueles que ousarem não obedecer a suas determinações como sucessor de São Pedro. Vemos aqui a clara manifestação do poder de jurisdição do papa sobre todas as Igrejas, independente do lugar onde estejam.

O papa São Calixto no século terceiro condena heresias (Patripassianos) e manifesta sua autoridade universal fazendo determinações para a África, depondo, inclusive bispos. Quem poderia fazer isso e ser respeitado como passível de fazê-lo senão o sucessor do próprio São Pedro, chefe de todas as Igrejas cristãs? 

No século quarto com o papa Júlio I, percebemos a consciência tanto do ocidente quanto do oriente no que tange à autoridade papal, pois é explicitado com clareza que é de Roma que se deve decretar o que é ideal para a Igreja como um todo (DELLEGRAVE, pg. 102). 

As duas chaves: símbolo do poder
temporal e espiritual
Finalmente, no século quinto, o papa Bonifácio I afirma numa carta com ousadia aos bispos da Tessália:“É certa por palavra divina que a Igreja romana é a cabeça de todas as Igrejas disseminadas no mundo; quem dela se aparta desmembra-se da religião cristã [...]” (DELLEGRAVE, pg. 103). Poderíamos citar muitos outros exemplos, como aqueles que estão apresentados em nosso livro “A verdadeira Igreja de Cristo”, composto pela Sociedade da Santíssima Virgem Maria - SSVM, porém cremos que esses bastam para demonstrar aos nossos leitores o quanto é infundada a opinião de que o papado teria surgido na Idade Média ou que teria sido criado pelo Império Romano como forma de dominação universal. Temos assim mais uma prova de como são infundados certos ataques dos inimigos da Igreja Católica. 

Cremos que esta primeira questão está por demais esclarecida. Deixamos para uma quarta e última parte a conclusão desta nossa série de artigos referentes ao papado. Nossa Sra. De Las Lajes! Rogai por nós!

MARIA SEMPRE!


Referência Bibliográfica

DELLEGRAVE, Geraldo E. O papado é instituição divina. São Paulo: Loyola, 1986. 

CRUZ, Prof. Pedro M. A verdadeira Igreja de Cristo. SSVM.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

DA BOA E MÁ TRISTEZA

São Francisco de Sales

A tristeza pode ser boa ou má.
A tristeza que vem de Deus, diz São Paulo, opera a penitência para a salvação; e a tristeza que vem do mundo opera a morte. A tristeza pode pois ser boa ou má, segundo os efeitos que em nós produz. É verdade que há mais efeitos maus do que bons; porque só há dois bons: misericórdia e penitência; e seis maus: angústia, preguiça, indignação, inveja, impaciência e ciúme. É por isso que diz o sábio: "A tristeza mata muita gente, e nada com ela ganhamos"; porque há dois bons regatos que dele provém, há seis maus.

O inimigo serve-se da tristeza para exercitar a perseverança dos bons; porque, assim como procura alegrar os maus no pecado, procura entristecer os bons nas boas obras; e assim como não pode atrair para o mal senão tornando-o agradável, também não pode afastar do bem, senão tornando-o aborrecido.
O demônio só pede tristeza e melancolia; porque assim como ele está para toda a eternidade triste e melancólico, assim desejaria que todos o estivessem também.
A tristeza má perturba a alma e inquieta-a, incute-lhe temores desregrados, afasta-a da oração; atormenta o cérebro, e priva a alma do conselho, resolução, juízo e coragem, absorvendo-lhe completamente as forças. Em breve tempo estará como um rigoroso inverno, que apaga toda a beleza da terra e atormenta todos os animais; porque priva a alma de toda a consolação e torna impotentes as suas faculdades.
O rei Davi não se queixa só da tristeza, quando diz: "Porque estás triste, minha alma?", mas somente do custo e da vacilação dizendo: "Porque te perturbas?" A tristeza boa deixa uma grande paz e tranquilidade no espírito. É por isso que Nosso Senhor, dizendo aos seus apóstolos: "Vós estareis tristes", acrescenta: "não se perturbe o vosso coração; nada temais". Eis que a minha grande amargura esta em paz, diz Isaías.
A tristeza má vem como saraiva, com uma mudança inopinada e grandes terrores e impetuosidade, e de repente, sem que se possa dizer donde vem, porque não se deixa adivinhar. Entretanto que a tristeza boa chega docemente à alma, como uma chuva fina, que tempera os ardores das consolações, e com algumas razões precedentes.
A tristeza má perde o coração e atormenta-o tornando-o inútil, fazendo-lhe perder o cuidado das boas obras, como diz o salmista, e como Agar, que deixou o filho debaixo da árvore para chorar. A tristeza boa dá força e coragem, e não deixa nem abandona um bom desígnio; esta foi a tristeza de Nosso Senhor, que embora fosse a maior que existiu, não lhe impediu a oração nem o cuidado dos seus apóstolos. E Nossa Senhora, tendo perdido seu filho, ficou muito triste; mas nem por isso deixou de o procurar com diligência, como também fez Madalena, sem se demorar a lamentar-se e chorar inutilmente.
A tristeza pecaminosa obscurece o entendimento, priva as almas de conselho, de resolução e discernimento, como sucede aqueles de quem diz o Salmista que "os perturbaram e abalaram como um ébrio, e ficaram privados de sabedoria"(Salmo CVI, 27). Procuram-se remédios aqui e além, confusamente sem tino e às apalpadelas. A tristeza santa abre o espírito, torna-o claro e luminoso, e como diz o Salmista, dá inteligência.
A pecaminosa impede a oração e a contemplação, e faz desconfiar da benignidade divina; pelo contrário a santa fortalece-nos na bondade de Deus, e impele-nos a invocar a sua misericórdia. "As tribulações e angústias perturbaram-me; mas os vossos mandamentos foram a minha meditação".
Em suma, os que estão possuídos da tristeza pecaminosa mergulham-se em uma infinidade de horrores, erros e temores inúteis, receando ser abandonados por Deus de incorrerem na sua desgraça e de se lhe não apresentaram para lhe pedir perdão. Tudo lhe parece contrário à sua salvação; são como Caim, que pensava que todos os que encontrava o queriam matar. Julgam que Deus será injusto e severo só com eles por toda a eternidade; pensam que os outros são muito mais felizes do que eles. É da soberba que provém tal crença a qual lhes persuade que deveriam ser muito melhores do que os outros e mais perfeitos do que ninguém.
A tristeza santa, porém discorre assim; "Sou uma criatura miserável, vil, e abjeta: logo Deus usará de misericórdia para comigo; porque a virtude acrisola-se na doença, e não se aflige por ser pobre, miserável."
Ora o fundamento da oposição que se oferece entre a boa e má tristeza, é que o Espírito Santo é o autor da tristeza santa e por ser o único consolador, as suas operações trazem consigo luz e claridade. Por consequência, essas operações são inseparáveis do verdadeiro bem; porque os frutos do Espírito Santo, diz São Paulo, são: caridade, gozo, paz, paciência, begnidade, longaminidade.
Pelo contrário, o espírito maligno, autor da má tristeza, (porque não aludo à tristeza natural que tem mais necessidade de medicina do que de teologia) é um verdadeiro estrago, tenebroso e aniquilador, e os seus frutos só podem ser: ódio, tristeza, inquietação, pesar, malignidade e desalento. Ora todos os sinais da tristeza má são os mesmos que os do mau temor.

MARIA SEMPRE!


Fonte: São Francismo de Sales, Livro Filotéia.

sábado, 10 de maio de 2014

SÁBADO: DO AMOR QUE SÃO JOSÉ TEVE A JESUS E MARIA


Iacob autem genuit Ioseph, virum Mariae, de qua natus est Iesus – “Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus” (Mat 1, 16).


Summario. A longa familiaridade de pessoas amantes faz muitas vezes resfriar o amor, porque, quanto mais tratam uns com outros, tanto mais conhecem os defeitos mútuos. Mas, não foi assim com São José. Quanto mais convivia com o divino Redentor e com a Santíssima Virgem, tanto mais chegou a conhecer-lhes a santidade. Concluamos disso quanto devia amar aqueles queridos penhores de seu coração, gozando tão longos anos a sua companhia. Roguemos ao santo Patriarca, que nos comunique uma parte de seu amor a Jesus e Maria; e ao mesmo tempo esforcemo-nos por imitá-lo, pela consideração de suas grandezas.

I. Considera em primeiro lugar o amor que José teve a Jesus. Já que Deus destinou o Santo a servir de pai ao Verbo humanado, com certeza infundiu-lhe no coração um amor de pai, e de pai de um filho tão amável, e que ao mesmo tempo era Deus. O amor de José não foi portanto um amor puramente humano, como o dos outros pais, mas um amor sobre-humano, visto que na mesma pessoa via seu Filho e seu Deus.

Bem sabia José, pela certa revelação divina recebida do Anjo, que o Menino, que via continuamente em sua companhia, era o Verbo divino, feito homem por amor dos homens, mas especialmente dele. Sabia que o Verbo mesmo o havia escolhido entre todos para guarda de sua vida e que queria ser chamado seu Filho. Considera, de que incêndio de amor não devia estar abrasado o coração de José, ao considerar tudo isso e ao ver seu Senhor, que lhe servia como oficial, ora abrindo e fechando a loja, ora ajudando-o a serrar a madeira, ora manejando a plaina ou o machado, ora ajuntando os cavacos e varrendo a casa; numa palavra, que lhe obedecia em tudo que lhe mandava, e não fazia nada sem o consentimento daquele que considerava como seu pai.

Que afetos não deviam ser despertados no coração de José, quando o tinha nos braços, o acariciava, ou recebia as carícias daquele doce Menino!quando escutava as palavras de vida eterna, que foram como outras tantas setas a ferir-lhe o coração! Especialmente quando observava os santos exemplos de todas as virtudes que o divino Menino lhe dava! – A longa convivência de pessoas que se amam mutuamente, muitas vezes resfria o amor; porque, quanto mais convivem, tanto mais descobrem mutuamente os defeitos. Não foi assim com São José: quanto mais convivia com Jesus, tanto mais lhe descobria a santidade. Conclui disso, quanto deve ter amado a Jesus, cuja companhia gozou, na opinião dos autores, pelo espaço de vinte e cinco ou trinta anos!

II. Considera em segundo lugar o amor que São José teve à sua santa Esposa. Era ela a mais perfeita entre todas as mulheres, a mais humilde, a mais mansa, a mais pura, a mais obediente e a mais amante de Deus, como nunca houve nem haverá outra entre todos os homens e anjos. Era, pois, merecedora de todo o amor de José, que era tão amante da virtude. Acrescenta a isso o amor com que se via amado por Maria, que certamente preferia no amor seu Esposo a todas as criaturas. José considerava-a como a predileta de Deus, escolhida para ser Mãe do Filho unigênito. Considera quão grande devia, por todos estes título, ser o afeto que o coração justo e grato de José devia nutrir para com a sua Esposa amabilíssima.

Meu santo Patriarca, alegro-me com vossa ventura e grandeza, por serdes julgado digno da convivência com Maria Santíssima, e de governar como pai a Jesus e de vos fazer obedecer por aquele a quem o céu e a terra obedecem. Ó meu Santo, visto como um Deus vos quis servir, também eu quero pôr-me no número de vossos servos. De hoje em diante quero servir-vos, honrar-vos e amar-vos como a meu senhor. Aceitai-me debaixo de vosso patrocínio e ordenai-me o que quiserdes. Sei que tudo que me queirais impor, será para meu bem e para glória de meu e vosso Redentor. São José, rogai a Jesus por mim. Ele certamente não vos negará nada, depois de ter obedecido na terra a todas as vossas vontades. Dizei-lhe que me perdoe as ofensas que lhe tenho feito. Dizei-lhe que me desprenda das criaturas e de mim mesmo, que me abrase em seu amor e depois faça de mim conforme a sua vontade. – E vós, ó Maria Santíssima, pelo amor que vos teve São José, acolhei-o debaixo do vosso manto, e rogai a vosso santo esposo que me aceite como seu servo.

Meu querido Jesus, Vós que para pagar as minhas desobediências, quisestes humilhar-Vos e obedecer a um homem, suplico-Vos pela obediência que na terra mostrastes a São José, concedei-me a graça de obedecer de hoje por diante a todos os vossos divinos desejos. Pelo amor que tivestes a José e pelo que ele Vos teve. Dai-me um grande amor a Vós, bondade infinita, digna de ser amada de todo o coração. Esquecei as injúrias que Vos fiz e tente piedade de mim. Amo-Vos, Jesus, meu amor, amo-Vos, meu Deus, e quero amar-Vos sempre.

***

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 52-54.)

sexta-feira, 9 de maio de 2014

SEXTA - FEIRA: DA MORTE

Catedral dos Crânios em Otranto-Itália.
Estole parati; quia qua nescitis hora Filius hominis venturus est – “Estais preparados; porque, não sabeis a hora em que o Filho do homem há de vir” (Mat 24, 44)


Summario. A morte é certa, mas não se sabe quando virá. Quantas mortes são repentinas! Quantos à noite tem ido deitar-se sãos e pela manhã aparecem mortos! Não pensavam morrer assim, mas morreram; e se estavam em pecado, acham-se agora ardendo no inferno, onde estarão por toda a eternidade. Para que não nos suceda a mesma desgraça, aproveitemos o conselho de Jesus Cristo, e preparemo-nos para morrer bem, antes que a morte venha: Estote parati – “Estais preparados”.

I. Considera como há de acabar esta vida. Já está decretada a sentença: hás de morrer. A morte é certa, mas não se sabe quando virá. Que é preciso para morrer? Uma síncope cardíaca, uma veia que se rompa no peito, uma sufocação catarral, um vômito de sangue, um bicho venenoso que te morda, uma febre, uma chaga, uma inundação, um tremor de terra, um raio, basta para te tirar a vida.

A morte virá surpreender-te quando menos o pensares. Quantos à noite foram deitar-se sãos e pela manhã foram encontrados mortos! Não pode o mesmo acontecer a ti? Tantos que morreram repentinamente, não pensavam morrer assim; mas morreram. E se estavam em pecado, onde estarão por toda a eternidade? – Seja, porém, como for, o certo é que há de chegar um tempo em que para ti o dia se fará noite: verás o dia e não verá a noite seguinte. Virei como um ladrão, de emboscada e desapercebido, diz Jesus Cristo. Teu bom Senhor avisa-te com tempo, porque deseja a tua salvação.

Corresponde, pois, aos avisos de Deus e aproveita-te deles, prepara-te para o bem morrer, antes que chegue a morte: Estote parati – “Estais preparados”. Então não é tempo de te preparares, mas de estares preparado. É certo que hás de morrer. Há de acabar para ti a cena deste mundo, e não sabes quando. Quem sabe se será dentro de um ano?... dentro de um mês?... quem sabe se amanhã ainda estarás vivo? – Meu Jesus, iluminai-me e perdoai-me. Ai de mim! que me resta de tantos pecados que cometi? O coração aflito, a alma agravada, o inferno merecido, o céu perdido. Ah, meu Deus e meu Pai, prendei-me com os laços de vosso amor.

II. Considera como na hora da morte te acharás estendido no leito, assistido de sacerdote que encomendará a tua alma a Deus, dos parentes que estarão chorando, tendo à cabeceira o Crucifixo, na mão a vela mortuária, e próximo a entrar na eternidade. Sentirás a cabeça atormentada de dores, os olhos enevoados, a língua seca, a garganta apertada, o peito oprimido, o sangue gelado, a carne consumida, o coração traspassado. – Terás de deixar tudo, e pobre e nu serás atirado a uma cova onde apodrecerás. Ali os vermes te roerão todas as carnes, e de ti nada restará senão uns ossos descarnados e um pouco de pó fétido, e nada mais. Abre uma cova e vê a que está reduzido aquele ricaço, aquele avarento, aquela mulher vaidosa. É assim que acaba a vida!

Desgraçado de mim, que tantos anos não pensei senão em ofender-Vos, ó Deus de minha alma! Agradeço-Vos as luzes que agora me comunicais, e prometo-Vos mudar de vida. Meu Jesus, não atendais à minha ingratidão, mas atendei ao amor que Vos fez morrer por mim. Se eu perdi a vossa graça, Vós não perdestes o poder de m’a restituir. Tende, pois, piedade de mim! Perdoai-me e dai-me a graça de Vos amar, porque prometo de hoje em diante não querer amar senão a Vós.

Ó meu querido Redentor, entre tantas criaturas possíveis escolhestes-me para Vos amar; eu também Vos escolho, ó Bem supremo, para Vos amar sobre todas as coisas. Vós ides adiante com a vossa cruz: não quero deixar de seguir-Vos com a cruz que queirais dar-me a carregar. Abraço todas as mortificações e trabalhos, que me sejam enviados por Vós. Contanto que não me priveis de vossa graça e me façais morrer uma boa morte, estou satisfeito. – Maria, minha esperança, obtende-me de Deus a perseverança e a graça de ama-Lo, e não vos peço mais nada.

***

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 49-51.)

quinta-feira, 8 de maio de 2014

QUINTA - FEIRA: A ORAÇÃO, INDISPENSÁVEL À SALVAÇÃO

Si quis vestrum indiget sapientia, postulet a Deo, qui dat omnibus affluenter, et non improperat — “Se alguém de vós necessita de sabedoria, suplique-a de Deus, que a todos dá liberalmente, e não impropera” (Iac. 1, 5).
Santo Afonso de Ligório
Sumário. A oração é não só útil à salvação, mas mesmo necessária, porque de um lado somos incapazes de fazer obras boas sem o auxílio de Deus, e do outro, o Senhor, ainda que nos queira dar este auxílio, de ordinário não o dá senão a quem ora. Se, pois, queremos salvar-nos, devemos orar até à morte, pois desde que cessemos de orar, estaremos perdidos. Devemos orar não só por nós mesmos, como também pelo próximo e especialmente pelos pecadores e pelas almas do purgatório.

I. A oração não só é útil à salvação, mas também necessária. Pelo que Deus, querendo salvar-nos, nos impõe o preceito da oração: Oportet semper orare et non deficere (1) — “Importa orar sempre e não cessar”. A razão desta necessidade de nos recomendarmos muitas vezes a Deus, baseia-se na nossa impotência para fazer, sem o auxílio divino, uma boa obra qualquer (2), mesmo para concebermos algum bom pensamento (3), e daí para nos defender contra o demônio, que não deixa de andar ao redor de nós para nos tragar.

É verdade; foi erro de Jansênio, condenado pela Igreja, o dizer que nos é impossível guardar certos mandamentos e que algumas vezes nos falta a graça para podermos observá-los. Deus é fiel, diz São Paulo, e não permitirá que sejamos tentados acima de nossas forças (4). Mas é igualmente verdade que Deus quer ser rogado; quer que nas tentações a Ele recorramos a fim de obtermos a graça para resistir. “Deus quer dar as suas graças”, diz Santo Agostinho, “mas, especialmente no tocante à perseverança, não a dará senão a quem a pedir.” E em outra parte acrescenta: “Lex data est, ut gratia quaereretur; gratia data est, ut lex impleretur — A lei foi dada para que se procure a graça; a graça foi dada para que se cumpra a lei.” O que exprimiu muito bem o Concilio de Trento quando disse: “Deus não manda coisas impossíveis; mas mandando, exorta-nos a que façamos o que está ao nosso alcance, e que peçamos o que excede nossas forças, a fim de que possa vir em nosso auxílio.” (5)

Numa palavra, o Senhor está todo disposto a dar-nos o seu auxílio, para não sermos vencidos; mas só dá este auxílio àqueles que o invocam no tempo das tentações, especialmente nas tentações contra a castidade, como disse o Sábio: Et ut scivi, quoniam aliter non possem esse continens, nisi Deus det... adii Dominum et deprecatus sum illum (6) — “Como eu sabia que de outra maneira não podia ter continência, se Deus ma não desse... recorri ao Senhor, e fiz-Lhe a minha súplica”.

II. Oremos, pois, e oremos com confiança. Jesus Cristo está agora assentado num trono de graças para consolar a todos os que a Ele recorrem e diz: Petite et dabitur vobis (7) — “Pedi e ser-vos-á dado”. No dia do juízo Jesus estará também assentado num trono, mas num trono de justiça. Que loucura seria a daquele que, podendo ser aliviado de suas misérias indo agora a Jesus, que oferece as suas graças, quisesse somente dirigir-se a Ele quando for juiz e não tiver mais misericórdia?

Avisa-nos São Tiago: “Se alguém de vós necessita de sabedoria, suplique-a de Deus, que a todos dá liberalmente, e não impropera... Mas suplique com fé, nada duvidando.” Por sabedoria se entende aqui o saber salvar a alma, e para que tenhamos tal sabedoria, se diz que devemos pedi-la a Deus. E Deus no-la dará, e no-la dará superabundantemente, mais do que nós pedimos. — Se quisermos salvar-nos, é mister que até à morte oremos, dizendo: Meu Deus, ajudai-me! † Meu Jesus, misericórdia! † Doce Coração de Maria, sede minha salvação! — No dia em que deixamos de rezar, estaremos perdidos.

Roguemos por nós mesmos e pelos pecadores, especialmente pelos que estão em agonia e hão de morrer neste dia. Esta oração agrada muito a Deus. Roguemos também cada dia pelas almas do purgatório; estas santas prisioneiras são em extremo gratas a quem ora por elas. — Em todas as nossas orações, peçamos a Deus as graças pelos merecimentos de Jesus Cristo, porquanto Ele mesmo nos ensina que nos será dado tudo quanto pedirmos a Deus em seu nome: Amen, amen, dico vobis: si quid petieritis Patrem in nomine meo, dabit vobis (8) — “Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes a meu Pai alguma coisa em meu nome, Ele vo-la dará”. — Meu Deus, eis o que antes de tudo Vos peço pelos méritos de Jesus Cristo: fazei que em toda a minha vida, e especialmente no tempo das tentações, me recomende a Vós e implore o vosso auxílio por amor de Jesus e Maria. — Virgem Santíssima, obtende-me esta graça, da qual depende a minha salvação. 

***
1. Luc. 18, 1.
2. Io. 15, 5.
3. 2 Cor. 3, 5.
4. 1 Cor. 10, 13.
5. Sess. 6, c. 11.
6. Sap. 8, 21.
7. Matth. 7, 7.
8. Io. 16, 23.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 47 - 49.)

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Pugna - Rainha do Céu e da Terra, te coroamos!

Boletim Pugna, da Sociedade da Santíssima Virgem Maria - SSVM, sobre a Coroação a Nossa Senhora neste mês de maio.


Informamos aos leitores que podem ficar a vontade para imprimir e distribuir como forma de apostolado. Se possível, imprimam em folha chamex A4, frente e verso. Clique aqui para visualizar e baixar.

Salve Maria Santíssima!