quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

DOM BERTRAND: NOBRE ENTREVISTA


Da direita para a esquerda: Sr. Lucas Silva, Sr. Alessandro Mendes,
Sr. João Júnior (presidente da SSVM), Sua Alteza Dom Bertrand,
Sr. Fábio Ribeiro, Sr. Renato Diniz e por fim o Sr. Helmer Souza.

Postado por editores do blog

Entrevista com o príncipe herdeiro, de segunda ordem, do trono da família Imperial do Brasil, Dom Bertrand de Orleans e Bragança. Ele, com robusta fé católica, teve a gentileza de conceder algumas palavras aos membros e amigos da Sociedade da Santíssima Virgem Maria - SSVM, em fevereiro de 2013 num encontro em São Bernardo do Campo. É com satisfação que as publicamos abaixo.

SSVM: Dom Bertrand, que mensagem o Senhor daria a tantos jovens pelo Brasil que apesar das grandes dificuldades têm a ousadia de levantar a bandeira da tradição e defender a fé católica?

DOM BERTRAND: Em primeiro lugar, o que tenho a dizer é que devem estar compenetrados de que somos católicos militantes. Existe a Igreja triunfante que são as almas que estão no céu, a Igreja padecente que são as almas que estão no purgatório, e a Igreja militante que somos nós. Militante vem de Mile (militar), porque somos guerreiros de Cristo, soldados da Santíssima Virgem. Então, devemos ter uma vida coerente com nossa Fé. 


Príncipe Dom Bertrand de Orleans
Em toda a nossa formação, nós devemos estar compenetrados, antes de qualquer coisa, de que somos católicos. Portanto, uma pessoa que estuda o Direito, deve se formar para ser um "católico advogado" e não apenas um advogado que, por acaso, é católico. Se estudar Medicina, deverá ser um católico que é médico e não um médico católico. A primeira coisa é o dever de ser católico; e católico militante. Ela deve estar compenetrada de que existe e foi criada por Deus para conhecê-Lo, amá-Lo e servi-Lo. 

Nós temos que conhecer a Doutrina Católica, amar a Doutrina Católica. Conhecer o Catecismo, as Escrituras, a devoção à Virgem. Quanto mais a gente conhece, mais a gente ama. E o “servir” para nós é, podemos dizer, um “combater”. Porque estamos num período histórico muito complexo, grave. Vemos que, da parte dos inimigos da fé, existe uma agenda para destruir a Igreja Católica e destruir a influência desta na sociedade temporal. Imaginem que o Brasil fosse invadido por inimigos, digamos, os argentinos (não são nossos inimigos, mas imaginem como se fossem), ou que houvesse um país que fosse nosso vizinho e comunista e invadisse o Brasil; então, se compreenderia que todos pegassem em armas em razão da defesa da vida e da pátria. Por muito mais razão, isso se explica quanto à defesa da Igreja Católica. E hoje não temos uma invasão armada, mas temos uma invasão ideológica dos inimigos da fé, dos inimigos da Igreja Católica, dos inimigos do Brasil autêntico e cristão. A razão de ser de nossa existência deve ser o combate em defesa de Deus, Nosso Senhor, da Santa Igreja e do Brasil católico. Esta é minha principal mensagem à juventude.

SSVM: Hoje temos muitos jovens universitários assustados com o esquerdismo e o anticlericalismo reinante no meio acadêmico. O que estes jovens devem fazer? Qual deve ser a atitude “contra-revolucionária”* nesses meios?

DOM BERTRAND: Posso relatar um fato de minha vida: Eu, quando estudei na faculdade de Direito, o Brasil já estava dominado por um regime praticamente comunista (que era João Goulart). Quando entrei na faculdade éramos quatro colegas católicos militantes; e tinha todo o resto aparentemente contra nós. Em dado momento um dos líderes do grupo socialista na faculdade percebeu que nós estávamos lá, fazendo apostolado, e veio nos desafiar: “E vocês não percebem que todos estão contra vocês? O que pretendem fazer?” Resposta: “Espere e verás...”. Nós começamos a fazer apostolado com a turma e previmos que nem todos eram comunistas; muitos eram “Maria vai com as outras” e muitos outros não tinham uma posição tomada. Nós fomos pegando nos pontos fracos dos comunistas e enfrentando-os com discussões aguerridas (com cabeça erguida). O fato é que aos poucos íamos desmascarando os comunistas. Na medida em que o fazíamos,  íamos cristalizando esta maioria silenciosa e despertando-a para o bem. O fato é que, quando entramos na faculdade éramos quatro; quando saímos, dominávamos a faculdade. Daí, ficamos conhecidos como “o grupo do Príncipe que marcou”. Durante muito tempo depois, aproximadamente dez anos, a direita passou a dominar a faculdade que cursávamos tornando-se a mais politizada do Brasil.

Brasão da Casa Imperial do Brasil
Então, quer um conselho? Façam exatamente isto. Procurem fazer apostolado; recrutar os que têm algo de bom; mostrar a doutrina católica; e discutam com os comunistas e inimigos da fé. Nesta discussão, vai haver uma polarização, e nesta, a maioria que não é revolucionária, tomará uma posição a favor; vai conhecer o lado bom.Os esquerdistas estão muito preocupados. Eu, na conferência que fiz agora, fiz referências às declarações do prefeito de São Paulo, que fala de uma assustadora tendência conservadora no Brasil. Sem dúvida, eles estão com medo porque estão percebendo que tem uma maioria que está balançando e caindo para o lado conservador. Então, é ocasião para nós trabalharmos e trazermos esta maioria para o nosso lado.

Nós temos a nosso favor algo que é inestimável: a Graça de Deus. Nós temos a proteção de Deus, Nosso Senhor; a proteção da Santíssima Virgem; a proteção de toda a legião de anjos e santos da corte celeste. (...). Nós temos ao nosso lado a verdade revelada que é a religião católica. Não estou dizendo que somos os donos da verdade; quem é dono da verdade é a Igreja Católica e nós estamos a serviço da Igreja Católica, da fé católica, de Deus Nosso Senhor. Daí, a nossa posição ideológica é inexpugnável, ela é irrefutável e o inimigo sente isso. Nossa discussão prevaleceu na faculdade de Direito sobre os líderes mais ideologizados da esquerda na base da discussão. E aí, os indecisos, aos poucos vão tomando uma posição conservadora...

SSVM: Como Vossa Alteza disse, nós temos a proteção de Nossa Senhora. Em Montes Claros-MG, existe a Sociedade da Santíssima Virgem Maria - SSVM; o senhor poderia nos falar sobre a importância da devoção à Mãe de Deus?

"(...) ou nós somos escravos de 
Deus por meio da Virgem ou
 somos escravos de Satanás."
DOM BERTRAND: Em todos os tempos, a devoção a Santíssima Virgem foi fundamental. São Luís de Montfort diz que Ela que gerou o Filho de Deus não poderia gerar apenas a Cabeça da Igreja, mas sim todo o Corpo, que é a Igreja. Nós somos membros do Corpo Místico de Cristo. Logo, Ela é medianeira universal; Ela é terrível como exército em ordem de batalha. E esta devoção pra nós é fundamental; porque no momento somos tão agredidos que ou nós temos a proteção da Santíssima Virgem - por meio da qual vêm todas as graças - ou as graças não chegam a nós. Certamente, vocês conhecem o Tratado da Verdadeira Devoção, de São Luís de Montfort... É fundamental! Porque ali mostra que, ou nós somos escravos de Deus por meio da Virgem ou somos escravos de Satanás. E quem tá apegado ao pecado nesta vida é escravo de Satanás. Então, nós temos esta arma que é a Verdadeira Devoção a Maria Santíssima (...).

SSVM: Dom Bertrand, muito obrigado por suas palavras sempre edificantes. Certamente os que lerem nossa entrevista irão sentir-se reinflamados com esta mensagem que nos lança à frente na batalha pela Igreja e contra a Revolução. 

DOM BERTRAND: Que nossa Senhora os ajude, os abençoe, os proteja e tenham uma boa tarde! E, combatam na certeza de que estamos num combate no qual nós temos as “cartas marcadas”. Porque Nossa Senhora já determinou que a Verdade vai vencer. Ela prometeu em Fátima que no final Seu Imaculado Coração triunfará!

*Os termos revolução e contra-revolução são aqui usados no sentido que Plínio Correa de Oliveira dá aos mesmos no seu livro "Revolução e Contra- Revolução": OLIVEIRA, Plínio C. de. Revolução e Contra-Revolução, SP: Artpress, 2009. 166 pág.


MARIA SEMPRE!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

SÃO JOÃO PAULO II SOBRE FÉ E RAZÃO


São João Paulo II (1920-2005)

Postado por Editores do Blog

Convidamos nossos leitores a acompanhar abaixo uma interessante reflexão de São João Paulo II, a respeito do gradativo distanciamento ocorrido entre a fé e a razão desde a baixa Idade Média. Cremos que as palavras do papa muito ajudarão a compreender um pouco mais a triste decadência no pensamento hodierno. 


CARTA ENCÍCLICA
FIDES ET RATIO 
DO SUMO PONTÍFICE 
JOÃO PAULO II
AOS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA


CAPÍTULO IV - A RELAÇÃO ENTRE A FÉ E A RAZÃO (45-48)


"Quando surgiram as primeiras universidades, a teologia começou a relacionar-se mais diretamente com outras formas da pesquisa e do saber científico. Santo Alberto Magno e Santo Tomás, embora admitindo uma ligação orgânica entre a filosofia e a teologia, foram os primeiros a reconhecer à filosofia e às ciências a autonomia de que precisavam para se debruçar eficazmente sobre os respectivos campos de investigação. Todavia, a partir da
Fides et Ratio,
lançada em 1998
baixa Idade Média, essa distinção legítima entre os dois conhecimentos transformou-se progressivamente em nefasta separação. Devido ao espírito excessivamente racionalista de alguns pensadores, radicalizaram-se as posições, chegando-se, de facto, a uma filosofia separada e absolutamente autónoma dos conteúdos da fé. Entre as várias consequências de tal separação, sobressai a difidência cada vez mais forte contra a própria razão.
Alguns começaram a professar uma desconfiança geral, céptica ou agnóstica, quer para reservar mais espaço à fé, quer para desacreditar qualquer possível referência racional à mesma (...) As radicalizações mais influentes são bem conhecidas e visíveis, sobretudo na história do Ocidente. Não é exagerado afirmar que boa parte do pensamento filosófico moderno se desenvolveu num progressivo afastamento da revelação cristã até chegar explicitamente à contraposição. No século passado, este movimento tocou o seu apogeu. Alguns representantes do idealismo procuraram de diversos modos, transformar a fé e os seus conteúdos, inclusive o mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo, em estruturas dialéticas racionalmente compreensíveis. Mas a esta concepção, opuseram-se diversas formas de humanismo ateu, elaboradas filosoficamente, que apontaram a fé como prejudicial e alienante para o desenvolvimento pleno do uso da razão. Não tiveram medo de se apresentar como novas religiões, dando base a projetos que desembocaram, no plano político e social, em sistemas totalitários traumáticos para a humanidade.

Idéias de Marx influenciaram
a "Teologia da Libertação"
No âmbito da investigação científica, foi-se impondo uma mentalidade positivista, que não apenas se afastou de toda a referência à visão cristã do mundo, mas sobretudo deixou cair qualquer alusão à visão metafísica e moral. Por causa disso, certos cientistas, privados de qualquer referimento ético, correm o risco de não manterem, ao centro do seu interesse, a pessoa e a globalidade da sua vida. Mais, alguns deles, cientes das potencialidades contidas no progresso tecnológico, parecem ceder à lógica do mercado e ainda à tentação dum poder demiúrgico sobre a natureza e o próprio ser humano. Como consequência da crise do racionalismo, apareceu o niilismo. Enquanto filosofia do nada, consegue exercer um certo fascínio sobre os nossos contemporâneos. Os seus seguidores defendem a pesquisa como fim em si mesma, sem esperança nem possibilidade alguma de alcançar a meta da verdade. Na interpretação niilista, a existência é somente uma oportunidade para sensações e experiências onde o efémero detém o primado. O niilismo está na origem duma mentalidade difusa, segundo a qual não se deve assumir qualquer compromisso definitivo, porque tudo é fugaz e provisório.

 Nietzsche, escreveu
sobre uma Morte de Deus
Por outro lado, é preciso não esquecer que, na cultura moderna, foi alterada a própria função da filosofia. De sabedoria e saber universal que era, foi-se progressivamente reduzindo a uma das muitas áreas do saber humano; mais, sob alguns dos seus aspectos, ficou reduzida a um papel completamente marginal. Entretanto, foram-se consolidando sempre mais outras formas de racionalidade, pondo assim em evidência o carácter marginal do saber filosófico. Em vez de apontarem para a contemplação da verdade e a busca do fim último e do sentido da vida, essas formas de racionalidade são orientadas, ou pelo menos orientáveis, como « razão instrumental » ao serviço de fins utilitaristas, de prazer ou de poder. (...) Na sequência destas transformações culturais, alguns filósofos, abandonando a busca da verdade por si mesma, assumiram como único objetivo a obtenção da certeza subjetiva ou da utilidade prática. Em consequência, deu-se o obscurecimento da verdadeira dignidade da razão, impossibilitada de conhecer a verdade e de procurar o absoluto.


Assim, o dado saliente desta última parte da história da filosofia é a constatação duma progressiva separação entre a fé e a razão filosófica. É verdade que, observando bem, mesmo na reflexão filosófica daqueles que contribuíram para ampliar a distância entre fé e razão, se manifestam às vezes gérmenes preciosos de pensamento que, se aprofundados e desenvolvidos com mente e coração reto, podem fazer descobrir o caminho da verdade. Estes gérmenes de pensamento podem-se encontrar, por exemplo, nas profundas análises
João Paulo II morreu em 2005 aclamado como santo.
sobre a percepção e a experiência, a imaginação e o inconsciente, sobre a personalidade e a intersubjetividade, a liberdade e os valores, o tempo e a história. Inclusive o tema da morte pode tornar-se, para todo o pensador, um severo apelo a procurar dentro de si mesmo o sentido autêntico da própria existência. Todavia isto não pode fazer esquecer a necessidade que a atual relação entre fé e razão tem de um cuidadoso esforço de discernimento, porque tanto a razão como a fé ficaram reciprocamente mais pobres e débeis. A razão, privada do contributo da Revelação, percorreu sendas marginais com o risco de perder de vista a sua meta final. A fé, privada da razão, pôs em maior evidência o sentimento e a experiência, correndo o risco de deixar de ser uma proposta universal. É ilusório pensar que, tendo pela frente uma razão débil, a fé goze de maior incidência; pelo contrário, cai no grave perigo de ser reduzida a um mito ou superstição. Da mesma maneira, uma razão que não tenha pela frente uma fé adulta não é estimulada a fixar o olhar sobre a novidade e radicalidade do ser. (...) Ao desassombro (parresia) da fé deve corresponder a audácia da razão."




Dado em Roma, junto de S. Pedro, no dia 14 de Setembro
 Festa da Exaltação da Santa Cruz - de 1998, vigésimo ano de Pontificado.


FONTE: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jpii_enc_14091998_fides-et-ratio_po.html

sábado, 3 de janeiro de 2015

RATZINGER E O CONCÍLIO VATICANO II

Concílio Vaticano II 1962 - 1965
 iniciado por São João XXIII e encerrado pelo Beato Paulo VI

Postado por editores do blog


Filósofo ateu Paolo d' Arcais (1944)
No ano 2000, o então cardeal Ratzinger (hoje papa emérito) participou de um debate acalorado com o filósofo ateu Paolo F. d´Arcais em torno do tema: Deus existe? - debate conduzido por Gad Lerner no Teatro Quirino de Roma perante uma multidão. A certa altura surge uma questão referente ao Vaticano II, evento do qual participou o próprio Ratzinger. Segue abaixo sua resposta que mostra já naquela época uma crescente preocupação a respeito das consequências surgidas devida vários fatores no período pós conciliar.

†††


"GAD LERNER: Antes de ser bispo, o jovem teólogo Ratzinger participou com entusiasmo dos trabalhos daquele Concilio, sendo até mesmo um elemento, digamos, fortemente favorável à inovação.

O Cardeal Ratzinger, quarenta anos depois, vê naquele evento um dos elementos da crise do cristianismo europeu? Ou seja, houve uma mudança no senhor?

O então pe.Ratzinger atuou no 
Concílio Vaticano II como perito.
 Ele foi eleito Papa em 2005.
JOSEPH RATZINGER: Uma mudança, não. Eu sempre penso que aquele esforço era necessário, que era o momento de abrir novos caminhos da linguagem e do pensamento teológicos e de buscar um novo encontro com o mundo e uma nova profundidade da fé, principalmente também no diálogo com nossos irmãos, as igrejas não católicas.

Nesse sentido, parece-me que foi um acontecimento providencial, necessário, mas com isso... com a comparação à intervenção cirúrgica também queria mostrar que um evento benéfico não necessariamente implica, de imediato, os efeitos positivos esperados. E nisso tenho um ilustre predecessor, o grande teólogo Gregório de Nacianceno, justamente definido como ‘o’ teólogo. Ele, tendo sido convidado pelo imperador ao Concílio de Constantinopla, após as experiências anteriores que tivera em outros concílios, disse: ‘Nunca mais irei a um Concílio, porque só cria confusão’; esse era seu desespero.

Eu não me expressaria assim, mas se ele disse... Um concilio é - como mensagem, como ação, digamos, como intervenção profunda na vida das Igrejas - necessário, mas, ao mesmo tempo, provoca novas complicações... e estamos em uma fase na qual temos de enfrentar essas complicações."

FONTE: RATZINGER, Joseph; D'ARCAIS, Paolo F. Deus existe? Trad. Sandra M. Dolinshy. São Paulo: Ed. Planeta do Brasil, 2009; p. 84-85. *O negrito é nosso
MARIA SEMPRE!